Críticas AdoroCinema
1,5
Ruim
Santo Amaro Era Skatista

Pitching

por Taiani Mendes

Ver Ademar Lucas subindo o Santo Amaro, no Rio de Janeiro, com a galera do skate e câmera na mão, contando do seu sonho de fazer uma pista no morro em que vive há 25 anos, dá a ideia de que este será um filme de "faça você mesmo", em que o cria que conseguiu se destacar tenta mudar também a vida de seus vizinhos através do incentivo ao esporte. Ademar explica seus planos, vai até o local supostamente ideal para o espaço de lazer, reclama dos políticos que só aparecem em época de eleição e diz que é hora de parar de esperar ajuda. "Favela tem gente de bem", ele afirma com garra, e conta sua bela história: pediu aos pais um skate após ver alguns meninos se divertindo horrores, foi descoberto na rua por um surfista que decidiu investir em sua carreira e começou a ganhar campeonatos por todos os cantos.

Adquirindo ares de documentário biográfico, Santo Amaro Era Skatista tenta se equilibrar então entre a valorização dos feitos de Ademar e o acompanhamento de seus esforços para tirar o projeto do papel, com claro privilégio para a primeira parte, até porque a segunda não depende só do rapaz e avança a passos lentos. Isso ocasiona o esvaziamento de sentido do filme, pois, ainda que seja admirável, a trajetória do menino que competia de igual para igual com adultos e precisou repensar sua carreira após um acidente, se reinventando e criando uma espécie de império que produz vídeos, festas e é também marca de roupas, não é capaz de sustentar um longa-metragem.

A partir de determinado momento, torna-se óbvio o que o diretor Felipe Martins está fazendo. Introduzindo Luquinhas como um homem de talento, batalhador e de família; citando apoiadores nominalmente; e detalhando seu plano de implantar a cultura skatista em áreas carentes da zona sul do Rio de Janeiro, enfrentando tiroteio e estabelecendo contato com governantes, é realizada na verdade uma apresentação em longa-metragem da proposta a investidores - que podem ser tanto empresários milionários quanto pessoas que apenas vão atrás dos produtos Ademafia ao fim da sessão.

Ademar teve sua vida mudada por um patrocínio e, adepto da corrente do bem, faz o mesmo com seu primo enquanto luta para encontrar uma parceria capaz de ampliar sua atuação, possibilitando que possa fazer a diferença para mais pessoas. O primeiro "padrinho" sugere que talvez ele fosse capaz disso só com seu próprio empreendedorismo, criticando a falta de organização e foco do “bom garoto” de forma estranha, comentário que desce ainda pior por surgir no fim do longa. Isentão sobre injustiça social e restrito a reflexões tolas como "a burocracia mata as ideias" e "se esforçando, dá", Santo Amaro Era Skatista acaba sendo um superficial documentário triste, apesar da alegria constante de seu protagonista, e é uma pena que mesmo o tão falado talento de Ademar para o registro dos rolês de skate seja tão pouco explorado.

Filme visto na 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro de 2018.