Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Wasp Network: Rede de Espiões

Emaranhado de tramas

por Barbara Demerov

Tendo em vista os filmes que fez nessa década, Wasp Network é um projeto diferenciado na carreira de Olivier Assayas. O diretor francês é conhecido por trabalhar com atenção o desenvolvimento de seus personagens, assim como por dar foco ao drama e às questões mais internas, humanas. Por este motivo, o filme de espionagem protagonizado por Edgar Ramirez (cuja história foi adaptada do livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria, de Fernando Morais), representa outro olhar do diretor - por mais que sua personalidade possa ser vista com facilidade em certas passagens. Este é um olhar mais pautado pela ação e reação que as pessoas deste universo produzem do que propriamente por uma aproximação mais clara enquanto indivíduos. Seu novo filme e os personagens que nele habitam podem ser comparados a uma teia de aranha em que todos estão ali, juntos, mas de forma nada organizada.

Contando a história real de um grupo de cubanos que se infiltrou em uma rede anti Fidel Castro na Flórida, o filme possui uma narrativa um tanto padrão para o gênero de espionagem, mas o fator Assayas tem grande peso no tratamento de personagens. Ao invés de focar inteiramente no grupo formado por Wagner Moura, Ramirez e Gael Garcia Bernal, o diretor dá muita atenção ao fator familiar que os cerca. Penélope Cruz, intérprete de uma esposa cubana que é deixada na ilha pelo marido, ganha tempo mais que suficiente em tela para que suas dores sejam explícitas e tão marcantes quanto o fato da contrarevolução que o grupo de homens desertores está disposto a fazer.

Justamente pelo foco de Assayas ser o lado humano e reflexivo de seus personagens, o filme custa a evoluir narrativamente. Por muitas vezes é inegável sentir um certo marasmo nas situações abordadas e nas dúvidas dos principais personagens, cujos diálogos raramente saem do mesmo lugar. Há um certo didatismo neles, assim como já é possível entender toda a trama em torno de uma hora de projeção. A partir daí, não existe evolução no texto ou na montagem.

Tal montagem foi criticada no festival de Veneza e fez com que o diretor reajustasse alguns detalhes. Isso deixa ainda mais claro o fato de que o filme não funciona como uma trama de espionagem, apenas como um drama familiar. Graças às suas boas atuações, Wasp Network toma fôlego quando há o dinamismo do trio (especialmente Ramirez) quando divide a cena com Leonardo Sbaraglia. O modo como Assayas filma as cenas de diálogos entre os homens na Flórida (sempre num plano e contra-plano em conjunção com um leve zoom enquanto falam) não é algo fenomenal, mas são engrandecidas por uma fala aqui e ali que destacam a importância daquele plano que, mesmo falho, significou muito.

Há, inclusive, algumas cenas em que vemos Assayas brilhar graças ao estilo próprio, que não é posto de lado 100% do tempo. Por mais que seu talento se esconda no decorrer de uma trama por vezes confusa, com moldes de narrativa que não chegam perto de ser inovadores, há uma passagem em questão envolvendo ataques terroristas que acentuam seu talento no que se diz respeito à contar uma pequena história dentro de uma grande história. Ali, tanto a montagem quanto a direção entram numa sintonia gratificante ao espectador, entregando o que o filme pode nos fornecer de melhor: suspense e adrenalina nas medidas certas.

Wasp Network bebe de fontes que nasceram de um cinema semelhante ao de Alfred Hitchcock ou de Brian De Palma, com um enorme leque de personagens que precisam lidar com a confusão mental com relação ao plano político e a incerteza do mesmo. Talvez pelo fato de ser baseado num livro, a personalidade do diretor se torna um mero coadjuvante, sendo o roteiro não capacitado para unir todas as pontas soltas a fim de tornar o enredo mais conciso e impactante com relação à missão. Assayas deixa de lado a complexidade da história que conta e tende a ir para o lado humano de um plano calculista.

Filme visto durante a 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, em outubro de 2019.