Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Emma e as Cores da Vida

O segredo dos seus olhos

por Taiani Mendes

Desde 2012 sem lançar ficções, o cineasta italiano Silvio Soldini volta a reclamar seu lugar de destaque entre os realizadores italianos contemporâneos com Emma, romance estrelado por Valeria Golino e Adriano Giannini. Tendo como cerne o relacionamento amistoso-amoroso entre uma osteopata cega e um publicitário infiel, o longa-metragem é econômico nas doses de paixão oferecidas aos espectadores, algo a se lamentar considerando a química dos atores e toda a dinâmica de sedução sugerida inicialmente.

O título nacional é o nome da principal personagem feminina, mas Emma não versa sobre a deficiente visual cuja voz “sexy” chama a atenção do mulherengo Teo na primeira sequência do filme. É o homem que orienta a trama e o fato do “criativo” ser um tipo extremamente dissimulado, nada confiável e bastante desonesto com as mulheres de sua vida não é exatamente um convite à simpatia. É duro aguentar, que dirá torcer pela felicidade de alguém tão descarado.

Soldini não conta aqui com uma força como a da sensacional Licia Maglietta em Pão e Tulipas ou Ágata e a Tempestade, atriz carismática capaz de carregar nas costas filmes que, não fosse por suas protagonistas, pouco teriam de memoráveis. Golino é talentosa, encantadora e o longa explora – e muito – especialmente sua beleza, mas a personagem é uma mera agente da mudança do estilo de vida de Teo, menos aprofundada que o desejável.

O título original é Il Colore Nascosto delle Cose (A Cor Escondida das Coisas, em tradução livre) e, para surpresa daqueles atraídos pelo cartaz romântico, o amor é aqui uma cor que os olhos sadios do protagonista demoram bastante a enxergar.  A certa altura Emma coloca Teo contra a parede afirmando que o que ele deseja é apenas saber como é o sexo com uma deficiente visual, e o roteiro de Soldini, Davide Lantieri e Doriana Leondeff, refém do ponto de vista superficial do womanizer, fetichiza essa mulher tanto quanto o personagem. A relação dos dois se desenvolve de forma bastante estranha, sem conversas sobre seus atos, meio que de forma inconsequente e amnésica, e o fato da cegueira jamais ser discutida como uma questão, apesar de claramente o ser para ele, é no mínimo desconcertante.

Emma ser cega (e ainda assim linda, bem vestida, ativa e independente) é tido como um charme irresistível, enquanto seus sofrimentos ou mesmo história de vida são relegados, como se alegrias e tristezas não pudessem coexistir na “mulher ideal”. Bom, para efetuar drástica (e inacreditável) transformação nos modos do bon vivant, ela aparentemente necessita mesmo ser uma figura de toque mágico cujo único “defeito” é às vezes precisar de alguma ajuda por não enxergar, exigindo zelo que ele até então jamais foi capaz de dar. Não é por acaso que a grande revelação sobre o passado de Emma se dá num breve grito distante da presença do egoísta Teo – o que é uma grande pena.

Apesar do bom alívio cômico por parte da expansiva amiga de Emma, Patti (Arianna Scommegna), Silvio Soldini demonstra que seu calibre entre comédia, drama e romance já foi melhor. Uma cena dedicada ao desespero da desorientação de Emma se destaca e a abertura e o encerramento têm seu charme na categoria “clichês de gênero”, mas o tom pastel de domingo ensolarado da obra é facilmente coberto por fortes tintas de desapontamento com a forma como o cineasta conduz o filme, pouco inspirado desde o papel. Pobre Emma...

Filme visto na 8 ½ Festa do Cinema Italiano, em agosto de 2018.