Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Entre-Laços

Filme família

por Lucas Salgado

Exibido no Festival de Berlim 2017, de onde saiu com o Prêmio Teddy, voltado para filmes com a temática LGBT, Entre-Laços é uma obra que trata de forma humana e honesta a questão de transgêneros. Ainda que deva receber algumas ressalvas, trata-se de um filme importante nos tempos de hoje, uma vez que o tema ainda é visto como tabu por muita gente.

Tomo (Rinka Kakihara) é uma jovem de apenas 11 anos. Ela vive uma vida de certa independência, uma vez que pode contar pouco com a mãe, uma pessoa bem instável. Quando a mãe desaparece por um período, a menina é obrigada a viver com o tio Makio (Kenta Kiritani) e sua namorada Rinko (Toma Ikuta), que ela ainda não conhecia.

Muito próxima do tio, Tomo estranha um pouco a presença de Rinko e tem certa dificuldade em lidar com o fato desta ser uma mulher trans. Aos poucos, vamos acompanhando a formação de um núcleo familiar repleto de amor e tolerância, mas que ainda é incompreendido por pessoas de fora.

O roteiro de Naoko Ogigami, que também dirige o filme, tem como principal mérito a naturalidade com que trata seu tema, ainda mais num cenário bem conservador, que é a sociedade japonesa. Se por um lado a produção acerta no tom de seus personagens principais, por outro era no desenvolvimento de certos conflitos, investido em histórias paralelas pouco coesas.

Entre-Laços possui ainda alguns problemas de montagem, especialmente quando insere momentos de flashbacks de Rinko no meio da história, fugindo a trama principal e sem deixar claro que aquilo era uma lembrança. 

Voltando ao roteiro, é possível perceber que nem todas as alegorias pensadas por Ogigami funcionam. Enquanto a relação da família com o crochê funciona, o mesmo não se pode dizer das inúmeras menções a amadurecimento do corpo da jovem Tomo. 

Irregular, mas importante. Assim é possível resumir o longa de Naoko Ogigami. Ainda que trate de independência e inquietude, o filme é sobre família.