Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Me Chame Pelo Seu Nome

Beleza pura

por Renato Hermsdorff

A beleza é um tema caro a Me Chame Pelo Seu Nome, filme do diretor Luca Guadagnino (100 Escovadas Antes de Dormir). Da paisagem campestre das locações no interior da Itália à fotografia solar de Sayombhu Mukdeeprom (As Mil e uma Noites), passando pela escalação de Armie Hammer (tido mais como um “rostinho bonito” do que exatamente um “talento”), a experiência do prazer estético ocupa, com sucesso, um lugar central nesta produção, que, no entanto, tropeça no ritmo.

Baseado no romance homônimo escrito pelo egípcio André Aciman, o filme narra os acontecimentos de uma temporada de férias na vida do adolescente Elio (Timothée Chalamet) na casa de campo da família intelectualizada em 1983 - um ambiente multicultural, onde se fala italiano, inglês e francês, por exemplo, sem nenhum titubeio. Lá, o pai dele (vivido por Michael Stuhlbarg), especialista em cultura grego-romana, recebe o acadêmico Oliver (Hammer), que viaja para ajudá-lo em sua pesquisa. Aos poucos, Elio e Oliver vão se aproximando um do outro.

Dizer que se trata de um "drama gay" é reduzir o filme a um tamanho injusto. Ao mesmo tempo em que ambos os personagens estabelecem, com sinceridade, uma relação própria, nada impede que eles dêem vazão a outras experiências, sobretudo no caso de Elio, que está descobrindo o mundo, por assim dizer (sim, trata-se de um "coming of age"). E, embora não estejamos falando aqui de grandes performances, ambos conseguem imprimir segurança aos papéis. Para além da "beleza estética", esse é um dos maiores valores do longa, ou seja, evitar o lugar-comum.

Daí, depreende-se outra armadilha comum a este tipo de produção, da qual, mais uma vez, o filme consegue escapar: o tom do dramalhão. Afinal, não se trata de um cenário social favorável à repressão. Não o precisa ser. O propósito de Call Me By Your Name (no original) é retratar uma história de amadurecimento. É como se o "conflito" (destaque para as aspas) descansasse na sombra, à espera de uma mudança natural na posição do sol. E o que é revelado, no fim, é uma opção narrativa elegante e, acima de tudo, madura. Nesse ambiente, a sexualidade não é uma questão. Interessa mais a Guadagnino e cia. a exploração do desejo a partir de uma história pontual, do que o estudo moral de um grupo social. É assim que ele evita (obrigado!) o julgamento.

As belas imagens têm sua força prejudicada na medida em que não são acompanhadas de uma narrativa de potência equivalente. O roteiro de James Ivory (diretor de Vestígios do Dia, três vezes indicado ao Oscar nesta função) não traz elementos suficiente para segurar as mais de duas horas de projeção. O filme demora a engrenar, o que prejudica o ritmo da experiência.

No entanto, se beleza não põe mesa, como atesta o ditado, no caso de Me Chame Pelo Seu Nome ela abre o apetite, subvertendo o clichê.

Filme visto no 42º Festival de Toronto, em setembro de 2017.