Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Entre Irmãs

Novela das 6

por Francisco Russo

Breno Silveira é um dos raros diretores brasileiros da retomada que possui no currículo dois sucessos de público: 2 Filhos de Francisco e Gonzaga - De Pai pra Filho. Fã confesso do cinema de forte tom emocional, Breno gosta de trabalhar a partir de relações familiares para desenvolver a questão do afeto, seja pela presença ou mesmo pela ausença. É o que acontece, mais uma vez, em Entre Irmãs - onde, como o próprio título denuncia, o alvo prioritário é o amor fraternal.

Baseado no livro "O Cangaceiro e a Costureira", de Frances de Pontes Peebles, o longa-metragem acompanha os caminhos de duas irmãs, Luzia e Emília, criadas pela tia no interior de Pernambuco, no início do século XX. Ligadas devido a um acidente de infância que fez com que Luzia tivesse um braço atrofiado, ambas aprenderam o ofício de costureira e têm suas vidas alteradas drasticamente a partir da chegada do cangaceiro Carcará, que exige que Luzia siga com o bando.

É interessante notar que, por mais que o título do livro aponte uma certa preferência pela história de uma das protagonistas, Breno Slveira conduz Entre Irmãs de forma a dar peso igual a ambas. Mais ainda: o objetivo aqui é não só acompanhar suas trajetórias, mas também destacar os contrastes existentes de forma a ressaltar algumas mensagens subliminares: o preconceito à posição da mulher, seja no cangaço ou na alta sociedade de Recife, e a forma como se pode conquistar espaço em ambas as realidades; a questão do sexo, ardente entre os pobres e gélido entre os endinheirados; a preocupação com a imagem pública, seja devido às fofocas permanentes da elite ou na batalha pela sobrevivência no sertão pernambucano.

Cada um destes tópicos é apresentado mantendo um certo paralelismo temporal entre as irmãs, de forma a construir um beabá narrativo exageradamente esmiuçado. Este, no fim das contas, é o grande problema de Entre Irmãs: o excesso em torno da narrativa, com subtramas pouco interessantes que poderiam até mesmo ser descartadas, sob uma edição mais rigorosa. O cansaço em torno dos personagens acaba sendo inevitável, também devido ao tom novelesco da própria narrativa, praticamente desprovido de qualquer emoção - o que é até mesmo um contrasenso, diante do histórico do diretor.

Por outro lado, é necessário reconhecer o bom trabalho do elenco, em especial Marjorie Estiano. Cada vez mais especialista em sotaques, desta vez ela envereda pela sonoridade pernambucana ao compor uma personagem ansiosa em viver na cidade grande que se frustra com uma realidade até então inimaginável, envolvendo não só o tal preconceito da elite mas, também, a questão da homossexualidade. É neste universo que o filme torna-se mais atraente, graças à boa cena do baile de Carnaval e dos encontros com a personagem de Letícia Colin - luminosa, sempre que surge -, infelizmente mal aproveitada pelo roteiro devido ao conservadorismo excessivo. Nanda Costa, por sua vez, é correta ao compor uma Luzia mais intensa e um tanto quanto amargurada, devido ao acidente quando criança, mas sem brilho.

Por mais que conte com um bom elenco e traga um nítido apuro estético, especialmente na fotografia e nos figurinos, Entre Irmãs é um filme extremamente cansativo devido às decisões narrativas feitas ao contar esta história, optando por um detalhismo desnecessário que, em vários momentos, traz ao filme um ritmo mecânico e esquemático envolvendo as idas e vindas entre as duas histórias apresentadas. Uma situação que se agrava ainda mais devido ao exagero também na duração, com 135 minutos injustificáveis.