Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
O Conto

Realidade instigante

por Lucas Salgado

O Conto é um filme que se encaixa com perfeição neste mundo de 2018, pós Time's Up e #MeToo, em que o tema do assédio e da violência sexual passou a ser mais exposto em Hollywood. Curiosamente, a produção se iniciou bem antes disso, em 2016, mas não tira o mérito de ser uma obra importante, cujo principal mérito é tratar de forma aberta e sem clichês um tema reconhecidamente difícil.

A diretora e roteirista Jennifer Fox usou sua experiência de vida para contar a história de uma documentarista e professora (Laura Dern) que ao analisar um texto que escreveu quando criança, passa a contestar internamente uma relação que teve, aos 13 anos, com um adulto. Em sua memória, via a relação como o despertar de sua juventude. Ao relembrar a história, começa a perceber que algo de muito errado aconteceu com ela.

É um filme muitas vezes instigante e quase sempre incômodo, uma vez que sua protagonista não se coloca numa posição de vítima. Mesmo aceitando o que aconteceu com ela, a personagem assume uma posição de dona de si. 

O fato de ser baseado em uma história real - da própria diretora - torna a obra ainda mais especial. Tudo é muito pessoal e intimista. E mesmo as idas e vindas do roteiro se tornam mais compreensíveis.

Laura Dern é a grande força do elenco, mostrando que vive um dos grandes momentos de sua ótima carreira. A veterana Ellen Burstyn também se destaca na pele da mãe de Jennifer, que é quem vai chamar a atenção da filha para o texto sobre sua infância. A personagem desaparece um pouco no terço final, mas conta com excelentes momentos, principalmente quando se colocar numa condição de culpada por não ter prestado tanta atenção à época. 

A jovem Isabelle Nélisse surge como Jennifer aos 13 anos e cumpre bem seu papel, embora os momentos em que a personagem surge meio que confrontando sua versão futura não funcionam tanto. Completando o elenco, surgem Elizabeth Debicki e Jason Ritter na pele de dois professores protagonistas do caso de assédio e pedofilia envolvendo a jovem. Debicki surge de forma misteriosa, mas Ritter é um ponto fraco no time.

The Tale (no original) é uma obra simples, mas com muitos méritos. Não oferece respostas, mas conta com muitos questionamentos. Ideal para os dias atuais.