Visual em evidência
por Barbara DemerovIndo para um caminho diferente de outras animações do estúdio Laika, como o dramático Kubo e as Cordas Mágicas e o sombrio Coraline e o Mundo Secreto, Link Perdido esbanja charme e energia com seu visual colorido e mais puxado para o imaginário infantil. O diretor Chris Butler executa realmente uma viagem ao redor do mundo através de seu trio principal de personagens: dois humanos... e um lendário Pé Grande.
O cuidado visual da equipe de animação pode ser visto em todos os frames: da riqueza em detalhes da neve até chegar às expressões do protagonista Sir Lionel Frost (Hugh Jackman), o longa não desaponta no quesito técnico em nenhum momento. Porém, o mesmo não pode ser dito da força de sua narrativa, uma vez que ela sempre está mais focada em piadas do que propriamente na construção de seus personagens. O passado não importa muito em Link Perdido, e isso chega a pesar um pouco para os espectadores que buscam mais profundidade ou particularidades daquelas vidas previamente a missão – especialmente no que se diz respeito à criatura.
Há discussões entre Frost e Adelina (dublada por Zoe Saldana), mulher que marcou o passado do explorador, que não possuem tanto peso dramático pois nem é possível entender exatamente o que aconteceu ali. Assim como também há bastante simplicidade envolvendo o arco principal, resumindo a grande missão numa forma de Frost provar que está certo ao seu superior, ao mesmo tempo em que foge de um assassino de criaturas lendárias que consegue os alcançar a cada etapa sem a menor das dificuldades.
Por outro lado, existe algo tão singelo quanto poderoso no personagem Link, o Pé Grande. Em dado momento da narrativa, ele lembra de uma pessoa que passou pelo seu bosque e não teve medo de sua imponência. Link, que não tem um nome próprio até então, resolve ser chamado pelo nome desta pessoa que passou rapidamente por sua vida: Susan. Para uma animação infantil, tal escolha não só nos provoca empatia pela criatura (que não entende o que é gênero e não tem qualquer tipo de preconceito) como também é uma forma dos criadores inserirem de forma natural, sem alarde, tal preferência.
Ainda que Link Perdido careça de profundidade por possuir uma trama mais leve que reflexiva, o visual da animação ultrapassa a simplicidade de seus personagens. Mas não deixa de ser interessante como Link (ou Susan) parece ser a principal missão da história em seu início, mas na verdade se transforma no principal acompanhante de Frost e do espectador na jornada. É ele quem dita o rumo da missão de verdade, visando encontrar seus familiares distantes e, assim, conhecendo suas raízes.
A ingenuidade permanece do início ao fim em Link Perdido, mesmo com a esperteza de Frost e a coragem de Adelina em sair de seu ponto de conforto. Tal característica reside especialmente em Susan, que leva todas as palavras ao pé da letra e tarda a ver maldade nos outros. É dentro dessas sutilezas de roteiro que estão as maiores qualidades da animação indicada ao Oscar 2020, mas ainda existe a sensação de que falta algo. Magia? Maturidade? São dois elementos distintos, mas talvez por transitar muito entre o infantil e o adulto que esta animação tenha seu brilho um pouco afetado pelo indefinido.