Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Juliet, Nua e Crua

A boa e velha fórmula

por Francisco Russo

Hollywood é cíclica. De tempos em tempos, gêneros (e subgêneros) vêm e vão ao sabor das tendências de momento, refletindo os interesses do público sem jamais serem completamente esquecidos. O exemplo mais recente desta maré é a comédia romântica, praticamente banida por alguns anos, que agora ensaia um retorno a partir de alguns (poucos) filmes lançados no cinema ou diretamente no streaming - leia-se, Netflix. Juliet, Nua e Crua, baseado em livro homônimo de Nick Hornby, é um deles.

Assim como em boa parte de sua produção literária, aqui Hornby trabalha uma de suas paixões: no caso, a música. O personagem de Duncan (Chris O'Dowd, correto), fã devotado que não só constrói um site como movimenta toda uma comunidade em torno do esquecido cantor Tucker Crowe, cujo solitário álbum completa 25 anos, é daqueles típicos neuróticos que conquistam a afeição do público, pela dedicação empregada. Por outro lado, tal faceta é também acompanhada por uma antipatia acumulada pelo desgaste no relacionamento com Annie, sua parceira de muitos anos, que, se por um lado é coerente com a situação, por outro vem bem a calhar com a história que se quer contar - trata-se do famoso "facilitador de roteiro".

É neste aspecto que Hornby, e o trio de roteiristas formado por Evgenia PeretzJim Taylor e Tamara Jenkins, derrapam em determinados momentos. Por mais que a ambientação de Juliet, Nua e Crua seja bem construída, estabelecendo contrapontos de interesse em um relacionamento e, posteriormente, a dualidade responsabilidade excessiva versus irresponsabilidade, a narrativa por vezes se sustenta em reviravoltas acomodadas pela obviedade, buscando caminhos fáceis para se chegar ao objetivo desejado, sem muito desenvolvimento. É o caso, especialmente, do relacionamento entre Duncan e Annie, cuja particularidade por Tucker Crowe rapidamente salta de mola mestra para a caricatura.

Por outro lado, Juliet, Nua e Crua apresenta também um perfil que tem se tornado recorrente nas comédias românticas lançadas em 2018: uma certa volta ao passado para estabelecer uma estrutura que permita resgatar um gênero considerado datado, devido ao cinismo existente nos dias atuais - algo também explorado, em diferentes proporções, nos recentes Para Todos os Garotos que Já Amei e A Barraca do Beijo. Senão, vejamos: Annie e Duncan vivem em uma cidade do interior da Inglaterra, em uma vida absolutamente regrada e conservadora. Ela deu continuidade ao trabalho do pai em um instituto marítimo local, em um caso claro de futuro sem grandes ambições ou surpresas. Se tal proposta serve à narrativa pelo contraste oferecido quando o sumido Tucker enfim reaparece, com seu jeitão largado de quem vive um dia após o outro sem pensar no futuro ou nas consequências, também há o cuidado de mesclar tal realidade com pitadas de modernidade. É onde entra o site (e a comunidade) criados por Duncan, estabelecendo a importância da conexão virtual, e também a irmã de Annie, Carrie (Megan Dodds, burocrática), cuja existência serve apenas para trazer uma certa diversidade sexual à história - por mais que seja meio estereotipada, a bem da verdade.

Tal conjunção entre modernidade e conservadorismo tem sido a fórmula empregada para trazer de volta as comédias românticas, de forma a torná-las atuais sem perder o charme do bom e velho ato de se apaixonar - enquanto ele existir, o gênero jamais morrerá! Nisto, Juliet, Nua e Crua funciona bem: o casal formado por Rose ByrneEthan Hawke diverte e tem boa química, no embate de suas personalidades tão distintas. Pena que o filme demore tanto tempo a reuni-los fisicamente e, quando o faz, acelere determinadas subtramas, cruciais para o desenvolvimento dos personagens. Deixa um certo gostinho de quero mais.

Com problemas estruturais de roteiro que prejudicam a história como um todo, pelos caminhos fáceis que assume em determinados momentos, Juliet, Nua e Crua é uma comédia romântica agradável calcada especialmente em seu elenco e no relacionamento entre fãs e ídolos, com seus exageros típicos de lado a lado. Quando investe nisso, o filme acerta em cheio.