Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Um Casamento

Por trás do véu

por Barbara Demerov

"O casamento nunca foi meu objetivo. Meu objetivo era o palco." São com essas palavras que a artista Maria Moniz, personagem do documentário Um Casamento, relembra seus desejos (considerados inaceitáveis) em meados da conservadora década de 50. A pessoa para quem transfere seus sentimentos da época é sua própria filha, Mônica Simões, que assina a direção da produção com olhar afetuoso.

Ao mesmo tempo em que exibe o retrato íntimo de uma grande família da Bahia, Um Casamento entrega a desconstrução deste mesmo retrato, ambientado em uma época extremamente tradicionalista e machista. Com o foco em Maria Moniz, musa tropicalista que mantém amizade com figuras como Caetano Veloso e Gilberto Gil, o resultado em tela é surpreendente. O lado pessoal de Maria e sua família poderia não impactar tanto o público pelo número de fotos e vídeos apresentados, mas com a mistura de temas sociais relevantes, como o feminismo e a luta da mulher para ter sua própria voz, a obra é elevada a um surpreendente nível emocional.

O que mais chama atenção no documentário é a forma como suas camadas vão sendo expostas. A documentanção do casamento de Maria e Ruy Simões serve apenas como o pano de fundo de uma história que pode não ter tido um final feliz matrimonial (eles se separaram após seis anos), mas que definitivamente serviu como impulso para Maria seguir sua vida de maneira livre e espontânea no teatro e na arte em geral. Nem tudo é o que parece, mas nem sempre o lado que está oculto pode ser negativo.

De forma determinada, Mônica Simões demonstra um carinho imensurável pela mãe, seja em suas perguntas ou no modo em que a filma. Um Casamento é delicado e ao mesmo tempo promove o debate da importância do livre arbítrio. Maria Moniz lutou para ter suas próprias conquistas, trabalhou fora contra a vontade do marido e teve a coragem de pedir a separação em uma década em que o ideal era manter o casamento a qualquer custo a fim de agradar a sociedade. Sua história pessoal é um belo exemplo para a compreensão de uma época retrógrada, e a condução da mesma prende a atenção do início ao fim.

Filme visto em julho de 2018 na 1ª edição do Festival Internacional de Mulheres no Cinema.