Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Um Tio Quase Perfeito

Cinema-família

por Lucas Salgado

Quando anunciado no início de 2016, Um Tio Quase Perfeito chegou a ser vendido, independente da vontade dos responsáveis pela produção, como uma espécie de versão brasileira de Uma Babá Quase Perfeita. Embora haja o elemento comum de ser uma comédia familiar e conte com um momento ou outro que parecem inspirados no clássico com Robin Williams, é bom para o filme nacional que esta relação seja algo mais temática do que propriamente estrutural, afinal seria uma responsabilidade muito grande querer fazer uma nova versão de uma obra consolidada na história da comédia e da sétima arte.

Tony (Marcus Majella) é o típico trambiqueiro que leva a vida aplicando pequenos golpes, muitas vezes contando com a ajuda da mãe, Cecília (Ana Lucia Torre). Sempre endividados, eles acabam despejados do apartamento que dividem e obrigados a pedir ajuda para Angela (Letícia Isnard), irmã de Tony. Traumatizada com experiências do passado, Angela não gosta nada da ideia de receber a dupla em sua casa, onde mora com o três filhos, Patrícia (Jullia Svacinna), João (João Barreto) e Valentina (Sofia Barros). No entanto, um curso fora da cidade e o sumiço da babá das crianças acaba fazendo com que ela confie no irmão e na mãe para cuidarem da casa em sua ausência.

A partir daí, uma série de situações demonstram o lado sem noção de Tony, mas também apontam para uma redenção do personagem, na medida em que as crianças vão conquistando o coração do tio. E vice-versa.

Um Tio Quase Perfeito é uma espécie de comédia familiar pouco vista no Brasil. Neste sentido, é normal que derrape em alguns probleminhas aqui acolá, especialmente no tom inicial de Cecília e, principalmente, Tony. O filme correu o risco de criar protagonistas babacas demais e perder a empatia do espectador. Felizmente, acabou escapando disso e foi possível escapar a tempo com uma jornada de desenvolvimento que tornou os personagens mais humanos.

Em seu primeiro papel como protagonista no cinema, Majella cria um tio Tony surtado e sem noção, mas quase sempre divertido. É possível se identificar também com o caminho que o personagem percorre, principalmente os momentos em que está totalmente perdido diante da melhor forma como lidar com as crianças.

Por sinal, as crianças são outros destaques da produção. Obviamente, não dá para exigir uma grande interpretação de uma pessoa de cinco anos de idade. Ainda assim, Sofia tem uma ótima presença em cena, sendo bastante espirituosa e fofa. Jullia acaba sendo o destaque entre os três. Sua Patrícia é uma espécie de segunda mãe para João, Valentina e (por quê não?) Tony. É um oásis de responsabilidade na casa, após a saída da mãe, mas aos poucos também vai se soltando mais. João completa o time e acaba sendo o ponto mais fraco do elenco. 

O diretor Pedro Antonio demonstra uma evolução com relação ao trabalho anterior, na comédia Tô Ryca, demonstrando um bom domínio de cena, tanto as com mais humor quanto os momentos mais emocionantes, envolvendo família. Ao final, insere ainda uma referência a Uma Babá Quase Perfeita que comprova o quão pensada foi sua direção. A cena final com Tony e a irmã remete à conversa entre Robin Williams e Sally Field no estúdio de filmagens da comédia citada. Em um teatro, vemos Majella num ambiente lúdico, enquanto que Isnard surge num fundo mais sóbrio, retratando diretamente as personalidades de seus personagens.