Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Parque do Inferno

O jogo das máscaras

por Bruno Carmelo

Este filme se passa quase inteiramente num único espaço: o parque mencionado no título. Da primeira a última cena, a narrativa se situa numa atração de terror onde um assassino mascarado anda às soltas. Entre tantas pessoas fantasiadas, como distinguir aquelas que estão se divertindo de outras potencialmente perigosas? Parque do Inferno trabalha no limite entre realidade e ilusão. Os cenários são falsos, as luzes são artificiais, as pessoas carregam facas que não cortam e machados que não machucam. O filme revela os seus artifícios (“Olhe para as mãos se quiser diferenciar as pessoas dos bonecos”, ensina um personagem), e ainda espera que a viagem seja assustadora para o espectador.

O ponto de partida é tão intrigante quanto arriscado. Como um mágico que ousa contar seus truques, o diretor Gregory Plotkin tem confiança de que o prazer do público pode se encontrar na curiosidade dos procedimentos. Constrói-se uma atmosfera eficaz de paranoia: se qualquer um pode ser o assassino, é compreensível que nossos protagonistas estejam angustiados a todo instante. Ao mesmo tempo, são tantas pessoas se divertindo com brincadeiras inofensivas (simulações toscas de mortes, monstros, sangue) que parece ridículo se levar a sério. O roteiro alterna habilmente entre uma simulação tosca da morte e uma morte real, de modo a inserir o público no jogo de adivinhações.

No que diz respeito ao material humano desta brincadeira, o filme é tão superficial quanto a maioria dos filmes em que claramente se inspira. Os personagens não passam de caricaturas grosseiras de jovens adultos agindo como adolescentes imaturos, tentando impressionar uns aos outros. Eles correspondem a tipos específicos: a mocinha de aparência virginal, o mocinho gentil em quem ela está interessada; o casal infantilóide e ostensivamente cool, e a melhor amiga, que convenientemente deixa a colega sozinha, mesmo sabendo que esta corre perigo. Os personagens não são aprofundados, pois a maioria se limita a corpos entregues ao abate.

A narrativa adota uma série de recursos absurdos para separar este grupo. Chega a ser engraçado ver Natalie (Amy Forsyth) sozinha num gigantesco banheiro na parte mais movimentada deste parque. Como de praxe nas narrativas do gênero, o instinto sádico da premissa supera o realismo. Assim, no limite entre a paródia e a homenagem ao subgênero de terror, Plotkin respeita as regras básicas: o assassino mascarado que alcanças as vítimas desesperadas embora caminhe tranquilamente; a faca como arma principal, que supera porretes e outros instrumentos mais robustos; a violência ligada à tensão sexual - os personagens correm mais risco à medida que se entregam aos prazeres sexuais.

Se existe um ponto em que Parque de Inferno manipula bem as convenções, ele se encontra no uso das máscaras. O símbolo central do slasher ganha algumas camadas a mais: entram em cena máscaras duplicadas, máscaras adulteradas, máscara sobre máscara e uma excelente cena nas quais as vítimas também têm direito às suas próprias máscaras. Quanto mais o jogo de identidades se desenvolve, mais interessante ele fica - e isso ocorre principalmente na segunda metade, após uma primeira parte protocolar. A distribuição de gêneros também adquire uma percepção contemporânea quando o roteiro privilegia a amizade ao romance, e a resistência das mulheres à passividade dos homens.

O filme se conclui como uma obra pouco inspirada visualmente - uma pena, pois havia possibilidades infinitas de representatividade no espaço ilusório do parque - mas bastante consciente dos elementos narrativos que possui em mãos, como atesta a ótima cena final, quando o caráter monstruoso do vilão é sabiamente contestado. Plotkin conhece bem os clássicos do gênero, e embora não subverta as convenções - a exemplo dos recentes Corra! ou Corrente do Mal, por exemplo - ao menos encontra espaço suficiente para deslocar as suas peças, reconfigurá-las, enquanto propõe um retorno ao slasher à moda antiga.