Críticas AdoroCinema
1,5
Ruim
Dolores - Uma Mulher, Dois Amores

Novela das seis

por Francisco Russo

Não é de hoje que a Ancine tem incentivado a realização de coproduções com nossos hermanos, através de editais especificamente focados neste objetivo. Uma iniciativa louvável, cuja intenção maior é promover o intercâmbio entre o cinema brasileiro e o dos nossos vizinhos, de forma a unir forças tanto pelo lado criativo quanto financeiro. Dolores, melodrama portenho dirigido por Juan Dickinson, é o exemplar mais recente deste esforço - só que, infelizmente, é mais próximo dos cacoetes de uma novela do que em algo que traga algum frescor cinematográfico.

Com um perfil autobiográfico não-assumido, já que trata-se da história de sua tia, o diretor Juan Dickinson desenvolve Dolores como um típico filme de época. Apresentado como um imenso flashback a partir das memórias do crescido Harry, o longa-metragem viaja rumo à Argentina da Segunda Guerra Mundial para tratar de sua personagem-título, uma jovem que retorna ao seu país-natal após saber do falecimento da irmã. Recém-chegada na fazenda da família, ela não apenas auxilia na criação do jovem Harry como tem participação fundamental na resolução dos problemas financeiros existentes - e, de quebra, reacende a antiga paixão pelo cunhado, agora viúvo.

Só por esta breve sinopse já é possível notar os estereótipos básicos de uma novela das 6: narrativa situada no interior, o que possibilita um tom bucólico a partir de uma fotografia paisagística, uma certa ingenuidade provocada pela ambientação e pitadas históricas na trama central, de forma a dar algum contexto temporal. Até então, nada de mais: não é por se apropriar de ícones que o filme automaticamente seja ruim. O problema é que mesmo tais características são apresentadas de forma esquemática e sem ritmo, como se tudo estivesse pré-marcado e seguido rigorosamente à risca pelo elenco. Em outras palavras: falta naturalidade, o que torna o filme como um todo bastante artificial.

O elenco, por sua vez, também não ajuda. Especialmente a protagonista Emilia Attías, elemento essencial para esta história, que surge extremamente mecanizada, caricata e sem timing nos diálogos - este, por sinal, um problema do filme como um todo. Por outro lado, sua Dolores é uma personagem bastante interessante pelo que representa: uma mulher independente, decidida, elegante e sexualmente ativa, tudo isso em plena década de 1940. Os rumos que toma chamam a atenção, por mais que o desenrolar da narrativa muitas vezes seja um tanto quanto brusco.

Extremamente arrastado, Dolores é um filme cansativo que, se por um lado até traz alguns elementos interessantes sobre a sociedade argentina da época e sua influência britânica, por outro esta mesma realidade jamais vai além do que mero pano de fundo. Mesmo a Segunda Guerra Mundial e suas consequências são mal desenvolvidas no roteiro, se resumindo a breves cenas envolvendo apoiadores de Hitler. Mal dirigido e mal atuado, Dolores se salva apenas pelo ícone feminista de sua personagem-título e pela beleza visual da ambientação rural.