Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
De Volta para Casa

Quatro garotões e uma California girl

por Taiani Mendes

Sucessora de Nora Ephron na produção consistente de comédias românticas, Nancy Meyers emplacou Do Que as Mulheres Gostam, Alguém Tem que CederO Amor Não Tira FériasSimplesmente Complicado nos anos 2000, mas em sua última obra, Um Senhor Estagiário, se afastou do gênero que a consagrou, preferindo contar uma história de amizade intergeracional. Carentes, os fãs de histórias de amor leves atrapalhadas por conflitos pouco complexos e protagonizadas por brancos ricos não precisam mais sofrer de abstinência. Hallie Meyers-Shyer, filha de Nancy, estreia como diretora e roteirista em um filme no estilo dos que deram fama à mãe, temperado com referências à sua própria relação íntima com a indústria, o pequeno diferencial.

Reese Witherspoon interpreta Alice, filha de um cultuado cineasta vencedor do Oscar, mulherengo e amoroso, apesar de ausente. Em crise no casamento, ela deixa o marido em Nova York para morar com as filhas em Los Angeles e se aproxima por acaso de três idealistas jovens adultos: um diretor (Pico Alexander), um roteirista (Jon Rudnitsky) e um ator (Nat Wolff). Claro que ela acaba se envolvendo mais com um dos rapazes e a diferença de idade – ela aos 40, ele no início dos 20 – torna-se uma grande questão, mas Hallie, surpreendentemente, não se atém ao romance. O cinema como profissão e amor maior do que a própria família, conforme apresentado na dinâmica abertura, faz-se presente em toda a duração, na trama paralela dos meninos em busca de financiamento para o primeiro longa-metragem e na principal, abordando o trauma de Alice de ser colocada em segundo plano por negócios relativos à sétima arte. Meyers-Shyer, cujo pai é Charles Shyer, diretor de O Pai da Noiva e Alfie - O Sedutor, certamente sabe do que está falando e seu conhecimento de causa deixa a correlação bem verdadeira na tela.

É meio difícil aceitar uma dondoca com duas filhas pequenas abrigando em sua casa três marmanjos que acabou de conhecer, mas passado o estranhamento é possível gostar dos relacionamentos que se desenvolvem e torcer pela harmonia da grande família moderna e profundamente artística que é formada. O que fica deslocada é a aventura profissional de Alice, plantada apenas para tirar sarro do high society clichê e ressaltar como a protagonista não é tal tipo detestável de gente apesar da mansão, do sobrenome e da aparência, e tampouco está imune a humilhações.

Michael Sheen está convincente no papel do marido que age como adolescente e os três garotos contracenam bem com a poderosa Reese: Alexander segurando no charme, Rudnitsky revelando-se o melhor ator e Wolff fazendo o que dá com o pouco tempo de tela e a irrelevância de seu personagem. 

Solar e divertidinho, De Volta Para Casa entrega exatamente o que o público espera de uma comédia romântica com Nancy Meyers nos créditos - ainda que aqui apenas produtora. Sem cheiro de naftalina (exceto o fim ao som da Carole King de 1971) ou alguma inovação que o conecte imediatamente à segunda década do século XXI, tem como maior destaque o diálogo com o cinema, enriquecido pelas experiências da diretora novata como filha de cineastas. É curioso um filme tão formulaico mostrar uma defesa tão apaixonada do cinema independente autoral.