Críticas AdoroCinema
1,5
Ruim
Fica Mais Escuro Antes do Amanhecer

Atmosfera poética sem intensidade e conexão

por Barbara Demerov

Filmes cujas narrativas são pautadas pelo tom subjetivo e reflexivo podem ou dar muito certo ou dar muito errado; é necessária a imersão tanto no visual quanto no conteúdo. Fica Mais Escuro Antes do Amanhecer, segundo longa de Thiago Luciano, possui belíssimos planos, ambientação que remete ao que o roteiro planeja entregar (o apocalipse) e um ar poético que chama a atenção, mas a soma de todos estes elementos não consegue chegar a um resultado coeso.

O diretor não só assina o roteiro como também protagoniza o longa como Iran, o que torna esta uma obra bem íntima  – especialmente quando analisamos por outra ótica: a do marido trabalhador que vê o mundo ruir aos seus olhos sem poder fazer muita coisa. Como evitar o apocalipse quando já se vive um no âmbito pessoal? Como seguir em frente sabendo que logo não existirá um futuro?

Se estas questões formassem o elo do filme tudo faria mais sentido, mas não é este o caminho escolhido por Luciano. Ao introduzir o dia a dia do protagonista em uma fábrica de gelo com o chefe excêntrico (Caco Ciocler, praticamente irreconhecível), assim como a difícil relação com sua esposa (Lucy Ramos), o roteiro entrega questões que ficam no ar e que não se encaixam com o principal, que seria o apocalipse.

Entende-se a tentativa de construir uma ambientação que dê a base para o clímax, a fim de compreendermos a complexidade da situação na pequena cidade que vive dois extremos: o frio e o escuro e o calor e o sol (que logo mais sumirá). Contudo, não é possível traçar uma linha reta que encaixe o luto antecipado da população com o apocalipse em si; a interpretação do diretor para com o desastre natural, no fim, forma uma mensagem mais pessoal do que abrangente, que dificulta o mergulho àquele universo.

A intenção é trabalhar a depressão perante às perdas e o medo, ao mesmo tempo em que se pretende sair de clichês e até mesmo de uma montagem linear. Porém, as tentativas do diretor de ir contra o "lugar comum" formam um amontoado de cenas que, por mais belas que sejam, não possuem valor de reflexão. Embelezam a trama, mas não transmitem fluidez.

Fica Mais Escuro Antes do Amanhecer permanece na sombra da tentativa de criar sua própria identidade. Ao desenvolver subtramas desnecessárias e incluir diálogos que claramente possuem o intuito de tornar a atmosfera mais densa, o roteiro se perde cada vez mais. No mais, a beleza de cada quadro é o que nos acompanha do início ao fim, por mais que não se conecte completamente com o que é dito.