Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Operação Final

Meu malvado favorito

por Bruno Carmelo

A ideologia nazista, com a prática de campos de concentração e a ideia de purificação da raça, costuma ser associada à figura de Adolf Hitler, embora vários agentes alemães e austríacos sejam responsáveis por crimes durante a Segunda Guerra Mundial. Um deles, Adolf Eichmann, conseguiu escapar e reconstruir uma vida sob pseudônimo na Argentina, até ser descoberto ao acaso por um grupo de investigadores judeus. Nasce então o plano improvável de sequestrá-lo e levá-lo a Israel, onde será julgado diante dos familiares de suas vítimas.

Para este projeto biográfico, o diretor Chris Weitz, acostumado aos pequenos dramas intimistas, se arrisca pelo suspense macroestrutural, envolvendo datas, países, cenários e circunstâncias reais. Ele trabalha a partir de uma estrutura semelhante à de Argo: um thriller tenso sobre a fuga de um país inimigo, tendo como eventuais momentos de descontração o humor decorrente do absurdo daquele contexto. Em Argo, a fuga envolvia o planejamento de um falso filme-dentro-do-filme. Em Operação Final, a extração de Eichmann passa pela necessidade de drogá-lo e fazer com que seja visto como um homem bêbado. A ideia de tratar o homem perigoso como um agradável senhor alcoolizado fornece uma comicidade que Weitz explora apenas em partes.

Aliás, o diretor economiza nas ferramentas do suspense. A estridente trilha sonora de Alexandre Desplat é concebida para um blockbuster de constante tensão. No entanto, a edição é lenta, e a montagem paralela, essencial para a tentativa de sequestro, é abandonada pelo projeto. Weitz se apoia em clichês convenientes, como o grupo salvo pelo gongo por causa de algum barulho na vizinhança, que dispersa a atenção dos nazistas, ou a colaboradora desconhecida, incorporada ao grupo sem investigação de seu passado, e que claramente vai trazer problemas mais tarde. O cineasta luta para criar ao mesmo tempo um estilo elegante e um ritmo visceral, como acredita ser necessário para o gênero. No meio do caminho, transforma as mulheres em figuras acessórias – elas constituem meros interesses amorosos para os heróis e vilões – e descreve a persistência do pensamento nazista sem questioná-lo.

O melhor aspecto de Operação Final se encontra no trabalho excepcional de Ben Kingsley. A composição de Adolf Eichmann poderia facilmente cair na caricatura do vilão perverso. No entanto, o ator cria uma sensação ambígua de responsabilidade: por um lado, o líder nazista acreditava apenas “fazer o melhor para o seu povo”, por outro lado, nunca pretendeu que as mortes se estendessem a esse ponto. Nenhum desses argumentos serve como justificativa, é claro, mas transparecem uma psicologia mais complexa do que a de um simples vilão. Eichmann é um bom avô e bom marido, além de possuir notável dom da oratória. Cada postura do personagem, cada fala ou olhar é muito bem pensada e executada por Kingsley, e ressaltada pela ótima fotografia de Javier Aguirresarobe. As trocas entre Eichmann e Peter (Oscar Isaac), no trecho central da história, elevam o filme a um intricado jogo de estratégias, como uma guerra particular entre quatro paredes.

Fora deste encontro, no entanto, o projeto corre o risco de soar genérico, tanto pela cena de introdução – seguindo à risca o manual do bom gosto para filmes políticos – quanto pela de conclusão, com os habituais letreiros e fotos verídicas para comparamos os personagens fictícios às pessoas reais nas quais se inspiraram. Weitz não aspira à criatividade, nem à ousadia formal. Ele acredita profundamente no interesse de seus personagens e seus atores. No caso de Eichmann, obtém sucesso. É uma pena que a galeria de médicos, policiais e agentes judeus ao redor dele seja muito menos interessante do que o líder nazista, e que o projeto perca a chance de refletir sobre as raízes plantadas por esta ideologia nociva no pensamento contemporâneo.