Não é apenas futebol
por Francisco RussoTerra do show business, os Estados Unidos são especialistas em (re)aproveitar famosos carismáticos em áreas completamente distintas. Foi assim com o fisiculturista Arnold Schwarzenegger, com a lutadora de MMA Ronda Rousey, com o astro da WWF Dwayne Johnson, todos transformados em atores - uns com mais sucesso, outros nem tanto. Dave Bautista seguiu a mesma trilha: quatro vezes campeão mundial dos pesos pesados na WWE, migrou para as telonas em pequenos papéis até explodir de vez como o impagável Drax de Guardiões da Galáxia - não por acaso ele tem tamanha devoção pelo diretor James Gunn, que mudou sua carreira com um único filme.
Nos anos seguintes, Dave surpreendeu com uma certa densidade dramática nas suas (curtas) participações em Blade Runner 2049 e 007 Contra Spectre, mas, por seu físico, é claro que não escaparia do clássico filme de ação com o típico exército de um homem só, gênero ao qual o bom e velho Schwaza tanto se dedicou nos anos 1980. Refém do Jogo é exatamente isso: um filme que segue a fórmula à risca, tentando explorar o carisma e o porte de um astro em ascensão associado à paixão pelo mais popular de todos os esportes: o futebol.
Para tanto, muito habilmente a narrativa é transferida para a Inglaterra, terra apaixonada pelo esporte que convenientemente também fala a língua inglesa. Para os fãs, é até interessante ver um pouco dos bastidores de um estádio como o do West Ham, cenário do sequestro orquestrado neste longa-metragem. Mas, é claro, este é um efeito colateral: o que o diretor Scott Mann quer mesmo é colocar Dave Bautista distribuindo uns bons socos em um punhado de russos de olhos esbugalhados, ansiosos em incitar uma nova revolução. O resto, é detalhe.
A questão é que o tal detalhe é tão mal desenvolvido que mesmo seu objetivo primário é afetado. A começar pelos próprios vilões, extremamente caricatos tanto pelo visual quanto pelo comportamento, apostando na simplória ideia de colocar brutamontes para enfrentar o herói da trama. Mesmo o contraste de colocar uma mulher também enfrentando Dave Bautista é mal aproveitado, seja pelos rombos causados pela perseguição empregada ou pelo ar de raiva incontida que a persegue a todo instante. Dave, por sua vez, faz o que pode em meio a tanta bagunça e emprega seu corpanzil e rosto barbado a lutas até meio sujas, que de certa forma surpreendem por fugir da coreografia.
É neste contexto que o filme até traz algumas cenas de ação interessantes, como a perseguição de moto dentro dos corredores do estádio e a luta na cozinha, com direito a rosto na chapa quente e mão na gordura fervendo. Ainda assim, não compensam os diálogos pífios nem as saídas fáceis de roteiro, sempre buscando o estilo a partir de uma trilha sonora excessivamente clichê ao (tentar) criar tensão artificialmente. Cansa.
Formulaico ao extremo, Refém do Jogo consegue alguém destaque por algumas razoáveis cenas de luta e pela abordagem colateral ao futebol, mais pela raridade em filmes deste porte do que propriamente pela qualidade. Vale também destacar Amit Shah, intérprete de Faisal, cujo personagem é o mais interessante da narrativa por levantar a questão da xenofobia na Inglaterra. E quanto a Pierce Brosnan, bom, basta dizer que foi um dos salários mais fáceis que já ganhou em toda a carreira.