Autoria roubada
por Lucas SalgadoPoucas atrizes da atualidade gostam tanto de um filme de época quanto Keira Knightley.Além dos memoráveis Orgulho e Preconceito e Desejo e Reparação, a atriz vestiu figurinos de época em obras como Doutor Jivago, A Duquesa, Um Método Perigoso, Anna Karenina, dentre outros. E agora repete a dose em Colette.
Ainda que as obras sejam diferentes entre si - narrativa e qualitativamente - há de se reconhecer que por vezes Keira parece estar sempre fazendo o mesmo papel. O novo longa conta a história de Sidonie Gabrielle Colette, uma jovem do interior da França que se casa com o galanteador Willy (Dominic West), um escritor que ganha a vida publicando contos e livros escritos por autores-fantasma.
Sempre precisando de dinheiro para arcar com o luxuoso e instável estilo de vida, ele convence Colette a escrever livros usando sua infância como inspiração. Ele acaba publicando os textos, que fazem sucesso por toda a França. O casal, então, passa a ter a vida corrompida por este "roubo de crédito" e pela exigência por parte do marido de que a esposa não deve parar de escrever.
A história de Colette é fascinante e importante de ser contada na tela grande. No entanto, é difícil não se incomodar com o fato de uma história tão francesa ser transformada em um filme todo falado em inglês. Para piorar, de tempos em tempos, vemos em cenas textos em francês ou falas simples como "bonjour" para nos lembrar que estamos diante de uma apropriação.
A direção de Wash Westmoreland, também responsável pelo roteiro ao lado de Richard Glatzer e Rebecca Lenkiewicz, é bem problemática em termos de ritmo e execução. Há problemas de tom em alguns momentos, com pitadas de humor mal desenvolvidas, e o elenco, em sua maioria, decepciona.
Com uma exceção: Keira Knightley. A atriz, embora se repetindo, não decepciona e entrega uma performance sólida e repleta de bons momentos. Ela conta com a ajuda de uma personagem complexa, cuja luta por reconhecimento e igualdade - infelizmente - ainda ecoa de forma efetiva nos dias atuais. Inclusive, é curioso notar que Colette era tão à frente de seu tempo que ainda hoje seria um ícone no que diz respeito aos direitos das mulheres.
Colette é um filme que comunica bem com os dias de hoje, mas que falha ao se oferecer como produto cinematográfico. Figurino, design de produção, fotografia... Tudo muito ordinário e de pouco impacto visual.
A vida e obra de Sidonie Gabrielle Colette é fascinante e é muito bom que tenha chance de ser contada na tela grande. No entanto, era melhor que não fosse tão "adaptada" para grande plateias. No final das contas, há a sensação de que algo está faltando.
Filme visto no Festival do Rio, em novembro de 2018.