Bonitinho...
por Renato HermsdorffTípica produção voltada para o público infantil, Uma Família Feliz lança mãos dos estereótipos familiares para, a partir da metáfora, reforçar valores importantes para as crianças. Até aí, nenhum problema, exatamente. (Pelo contrário, aliás). Porém, comparado com o nível de sofisticação a que o cinema de animação já alcançou (leia-se Pixar), o longa do alemão Holger Tappe (Tô de Férias) pouco acrescenta em um “mercado” cada vez mais exigente.
Happy Family (no original) é centrado na figura de Emma Wishbone. Infeliz no casamento (o marido, apático, é escravo do trabalho), infeliz na maternidade (a filha adolescente tem vergonha dela; enquanto o filho, menor, é vítima de bullying na escola e vive às turras com a irmã), Emma está... infeliz. Até que liga acidentalmente para o Drácula, o Príncipe das Trevas, que, solitário, se apaixona imediatamente por ela e ordena que a bruxa Baba Yaga, num passe de mágica (literal) atue como uma espécie de cupido dessa relação.
O feitiço acontece no momento em que Emma, numa tentativa de dar uma chacoalhada na família, decide levá-los a uma festa à fantasia. Assim, cada membro da família Wishbone se “transforma” no “monstro” do qual estava caracterizado no momento da mandinga – o que é uma boa sacada do texto, baseado no livro homônimo do escritor alemão David Safier, uma vez que cada “personalidade” guarda uma relação com cada “personagem” do universo do terror (o pai, um tanto bocó, por exemplo, vira um abobalhado Frankenstein).
Assim começa a busca pelo reencontro com a felicidade familiar, a partir de um roteiro previsível e cheio de pontas soltas (Por que Emma procurava uma dentadura de vampiros se ela nem sabia ainda da existência da festa? Por que a filha vai atrás do pretendente platônico depois de transformada em múmia? Por que uma vampira pode embarcar em uma Kombi sob a luz do sol, mas não pode descer do veículo pelo mesmo motivo?, são questões pequenas, mas numerosas, que, sem respostas, distraem a atenção do espectador).
Nesse cenário, quem rouba a cena é a bruxa Baba Yaga. Atrapalhada, a personagem é uma homenagem explícita ao Yoda do universo Guerra nas Estrelas. E vale uma menção a Juliana Paes no papel (ou melhor, na voz) da matriarca Emma, um trabalho que não deixa a dever à excelência dos dubladores profissionais do Brasil.
Se “Hallelujah”, a canção de Leonard Cohen, se tornou um clichê nas mãos dos diretores que querem imprimir um selo de “dramaticidade” em suas obras, “Happy”, o hit de Pharrell Williams, parece estar trilhando o mesmo caminho no ramo da animação, para garantir que se trata de um produto “animado”. Sim, Uma Família Feliz termina (spoiler?) ao som da mesma música de Meu Malvado Favorito 2. Mas é bonitinho...