Apocalipse sem pé nem cabeça
por Barbara DemerovFilmes sobre o apocalipse mundial costumam ser repletos de cenas de destruição, pessoas desaparecendo, perseguições ou até mesmo contam com a presença de monstros e zumbis. Mas e quando não vemos nada disso em um filme do gênero? Este é o caso de Próxima Parada: Apocalipse. É até estranho pensar que o filme é sobre uma calamidade mundial que ocorre logo nos primeiros minutos, pois tal "calamidade" não é explicada em momento algum da narrativa - por mais que possua quase 2h de duração.
Mesmo que não torne clara a situação que dá nome ao título, o roteiro tinha grandes chances de criar uma aventura cuja força ecoasse em seus personagens, mas também não consegue aproveitar esse facho de luz. O protagonista Will (Theo James), assim como Tom (Forest Whitaker), não entregam atuações críveis para manter o interesse na road trip que fazem pelos Estados Unidos a fim de reencontrar Samantha (Kat Graham) - noiva e filha dos personagens, respectivamente. A relação entre ambos os homens, que se apresenta negativa desde o início, é infundada e faz menos sentido ainda quando os dois se unem para viajar.
Próxima Parada: Apocalipse, diferente de outros filmes de drama e suspense como Filhos da Esperança e Eu Sou a Lenda, não entrega situações atípicas que só aconteceriam, de fato, durante o apocalipse. O filme faz pior: ele é desconexo do início ao fim, parecendo mais uma grande montagem que mistura diferentes atmosferas, e possui erros básicos de roteiro e tratamento de personagens. As relações abordadas são extremamente artificiais e não produzem qualquer tipo de emoção - até mesmo com o casal "principal" formado por Will e Samantha (que mal aparece em cena).
Carecendo de uma base narrativa que se sustente do início ao fim, Próxima Parada: Apocalipse é e não é ao mesmo tempo. É um filme de drama, mas que não possui profundidade nas ligações entre personagens. É um filme de ação, mas que só se contenta com um pouco de fogo e fumaça aqui e ali. É um filme de sobrevivência, mas que não apresenta nada mais que uma longa viagem de carro com pequenas paradas e nenhuma luta por algo que realmente importa. Além do mais, a catástrofe só é retratada em quatro dias e é provada pela presença do exército e a falta de gasolina e energia. São apenas clichês unidos para explicar absolutamente nada, e que encerram-se de modo abrupto, sem sentido algum.
O mais irônico é que, tratando-se de um filme deste gênero, deveríamos estar nos perguntando como tal situação apocalíptica aconteceu de modo irrealista; mas, na verdade, a principal questão é que nem as questões humanas foram abordadas com atenção. O que Próxima Parada: Apocalipse não tem de apocalíptico em sua ideia, possui de sobra nas consequências da mesma.