Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Crimes Obscuros

Enigmas apáticos

por Barbara Demerov

Uma cidade propícia para investigar a morte de um executivo em uma boate. Um investigador cujo passado é tão nebuloso quanto as verdades que busca. Um suspeito que parece estar à vista para todos, mas que não quer entregar todas as cartas tão facilmente. Crimes Obscuros é uma dessas histórias que chamam a atenção de qualquer espectador interessado por temáticas mais enigmáticas, mas sua aura sombria não ultrapassa este breve resumo.

Protagonizado por Jim Carrey, que aqui encara um papel ainda mais dramático que em Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças e O Número 23, o filme do diretor Alexandros Avranas tem sua qualidade rebaixada drasticamente por apostar muito no visual e nem tanto no roteiro. A curiosidade que o início da história consegue transmitir não é mantida por muito tempo pois há pouco aproveitamento do local do crime (uma boate cujos clientes violentam mulheres), do protagonista (um homem casado mas que não possui qualquer laço com esposa e filha) e do "vilão" (um escritor que detalha o crime ocorrido há mais de um ano na boate com detalhes assustadores).

O suspense relacionado ao escritor de sucesso, que teima em dizer que é inocente, deixa o policial Tadek (Carrey) agitado o suficiente para fazê-lo com que insista aos seus chefes a reabrir do caso. O pouco que sabemos sobre o protagonista é que ele se tornou mal visto na cidade após sua última investigação, mas nada muito além é dito - o que dificulta a aproximação para com o personagem. O mesmo pode-se dizer sobre a relação que possui com sua esposa, com quem mal fala, e com a filha, que aparece em apenas uma cena, sem dizer uma palavra. Se isso foi uma escolha feita para com que víssemos o quanto Tadek é alheio a tudo e a todos (exceto pelo trabalho), certamente foi uma má abordagem pela falta de background que nos é apresentado.

O crime em questão acaba ganhando twists mirabolantes que enfraquecem sua carga dramática. Afinal, quem era aquele homem, o que ele estava fazendo na boate e quem o matou? Estas perguntas são respondidas, mas só depois do roteiro criar situações que não adicionam informações válidas, mas que apenas dificultam o entendimento das principais. As boas atuações de Carrey (cujo sotaque carregado é o grande diferencial) e Charlotte Gainsbourg (a namorada do suspeito), assim como a química da dupla, é o único fio que torna tudo mais tolerável - assim como a direção de arte e fotografia, que aproveita bem as cores frias para transmitir a solidão e o sentimento de que aquelas pessoas estão realmente perdidas.

A obsessão de Tadek no caso também não é amplamente explicada e fica numa camada rasa em que ele apenas almeja o retorno do reconhecimento profissional de outrora. Sua conexão com o crime não é nada natural, o que faz com que o personagem tome atitudes cada vez mais drásticas e incoerentes ao longo da narrativa. Da mesma forma que o suspeito do assassinato, Koslov, é tão ambíguo que sua própria importância no enredo diminui a cada fala dita com sarcasmo e ironia em níveis exagerados.

Crimes Obscuros usa e abusa de elementos clichês de filmes de suspense para tentar compor uma atmosfera singular, mas no fim acaba sendo prejudicado por exatamente isso. Ao menos a cena final é muito bem feita e surpreendente e provoca sentimentos que deveriam aparecer desde o início, para nos importarmos de fato com os personagens abordados.