Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Infiltrado

Jason Statham e Guy Ritchie foram feitos um para o outro

por Aline Pereira

Vamos começar aqui concordando que o nome “Jason Statham” e o título “Infiltrado” não deixam nem muito mistério sobre o que esperar do filme: uma combinação entre tiroteios, pancadaria, cara fechada e poucas palavras. Ainda assim, o longa dirigido por Guy Ritchie encontra espaço para criar uma narrativa envolvente que traz aspectos interessantes para manter uma boa dose de convencimento, adrenalina e de surpresas, na medida do possível. Temos uma trama que agrada a quem é fã de filmes e heróis brucutus, mas que também pode ganhar a atenção de quem se interessa mais pelo suspense. 

Infiltrado acompanha H (Jason Statham), que arranja uma vaga de trabalho para uma empresa de carros-fortes, que é responsável pela movimentação de milhões de dólares pela cidade de Los Angeles. A segurança dos caminhões é um fator importante para os negócios - por razões óbvias - e, por um motivo aparentemente nebuloso, os assaltos ficaram muito comuns. Assim, ao enfrentar a primeira tentativa de roubo contra o carro-forte, H impressiona os novos colegas ao mostrar suas habilidades heroicas de combate. Embora a chefia fique mais do que satisfeita em ter a mercadoria protegida por um funcionário tão “qualificado”, as suspeitas também começam a surgir entre os personagens e o espectador: quem ele realmente é? E por que parece treinado em uma guerra? A partir daí, vamos conhecer o passado e as verdadeiras intenções de H.

Jason Statham, Guy Ritchie e dois canos fumegantes

Se Jason Statham conquistou seu posto como um dos maiores astros de ação da atualidade, com presença em filmes muito bem-sucedidos do gênero, como Carga Explosiva e Velozes & Furiosos, para o qual retornou recentemente, Guy Ritchie é quem abriu muitas portas a ele. Os dois trabalharam juntos pela primeira vez em Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes lançado em 1998, repetiram a parceria em Snatch, de 2000, e, por fim, em Revólver que estreou em 2005. Assim, a sensação é a de que Infiltrado é aquela reunião de amigos de décadas que faz parecer que o tempo quase não passou - boa pedida para quem gosta do formato "brucutu clássico", se pudermos colocar desta forma. 

Infiltrado propõe um quebra-cabeça para seu público

Em filmes que querem dar espaço e destaque a tantas sequências de luta e troca de tiros, é comum que a história acabe ficando em segundo plano para cumprir o objetivo a que a obra se propõe. Mas a vantagem de Infiltrado neste quesito é que Guy Ritchie é particularmente bom em equilibrar os pratos para entregar um entretenimento mais “amplo” - talvez uma herança da direção de blockbusters mais fantasiosos como Sherlock Holmes e Aladdin? O diretor consegue ir além do pacote básico dos filmes de ação, mas sem se esquecer do fator comercialmente mais importante: voltar os holofotes à estrela do filme que, afinal de contas, é quem chama o público para a sala de cinema.

Assim, a principal característica de Infiltrado, dentre os outros incontáveis filmes de vingança e de assalto que já vimos antes, é a forma mais elaborada de apresentar a trama. Bem, não é difícil imaginar o desfecho de produções de ação estreladas por atores que são sempre quem distribui a pancadaria - alguns deles, inclusive, têm a vitória prevista em contrato. Então o vai-e-vem no tempo e entre os lados que estão em conflito são uma escolha inteligente para entreter o público com o encaixe das peças enquanto o fim inevitável não chega.

Jason Statham é… Jason Statham: cara fechada e pronto pra briga

Um homem de poucas palavras é Jason Statham em seus filmes, uma característica que conta a favor dele em Infiltrado porque nem os outros personagens, nem o público conseguem desvendar qual é a verdadeira história dele logo de cara, tornando o protagonista uma presença meio desconfortável dentro e fora da tela. Temos só aquele rosto sisudo, durão e pronto da briga o tempo todo - nem quando ele está relaxado, parece estar relaxado. 

O personagem não chega nem perto de ser abordado de forma muito profunda ou pessoal, o que faz falta para quem precisava de um pouco mais de incentivo para torcer e “passar um pano” para as atrocidades cometidas por H ao longo da história. Por outro lado, o fato de nunca sabermos direito o que é que ele está pensando acaba ajudando o roteiro: o filme pode até ir se tornando previsível com o avançar das horas, mas o personagem, não. É bem sólida a sensação de que ele não teria problema algum em matar qualquer pessoa, mas nem sempre ele toma essa decisão. Até o último segundo, não temos como saber que lado ele vai escolher. 

Infiltrado é um bom filme de ação? 

Embora a forma de contar a história tenha bons atrativos, o enredo por si só não parece querer reinventar a roda e, na medida em que, o passado e as verdadeiras motivações de H vão sendo reveladas, Infiltrado vai se acomodando entre os outros vários filmes do gênero ao guiar a trajetória do personagem pela perda da família, o único vínculo social e "freio" que ele possuia. Ao perder esse laço, os escrúpulos também se vão - não é que o filme não justifique bem o passado triste (ao contrário, os flashbacks violentos são impactantes), só não há nenhum fator mais curioso nesse ponto.

Quando o quebra-cabeça termina de ser montado e vamos nos aproximando do fim, a resolução pode acabar virando o ponto mais incômodo. Não vamos dar spoilers por aqui, mas, desde o começo, o personagem de Jason Statham vinha traçando um plano tão aparentemente meticuloso e articulado que não é muito satisfatório ver que tudo acaba com uma reviravolta que não parece muito conectada ao resto da história. Infiltrado faz tanta questão de que o público embarque nos enigmas que pode ser frustrante a sensação de que o resultado da história toda veio mais por um golpe de sorte do que pelos elementos reunidos até então.

Infiltrado provavelmente não será aquele primeiro filme que vem à cabeça imediatamente quando alguém nos pede para recomendar um bom filme de ação, mas consegue entrenter com uma história que tem, sim, seu charme e seus malabarismos para torná-la divertida.