Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
A Viagem de Fanny

Uma jornada de inocência

por Lucas Salgado

Passados 72 anos do final da Segunda Guerra Mundial, ainda não se esgotaram as histórias com potencial para ganhar uma adaptação na tela grande. Ao mesmo tempo, está cada vez mais difícil encontrar nas telas obras realmente diferenciadas e interessantes sobre o período. E A Viagem de Fanny não é uma exceção à esta regra. Embora seja sensível e bonitinho, a verdade é que estamos diante de uma obra ordinária. Que muito dificilmente ficará na cabeça do espectador por muito tempo após a sessão.

Fanny (Léonie Souchaud) é uma jovem garota de 12 anos que vive com as duas irmãs em uma instituição que cuida de crianças judias afastadas dos pais em plena guerra. Determinado dia, os responsáveis pelo espaço descobrem que os soldados alemães estão perto de ocupar o local. Assim, as crianças são deslocadas pelo interior da França, com a meta final de chegarem na Suíça. Após uma série de problemas, os adultos responsáveis acabam tendo que deixar as crianças seguirem seu caminho por conta própria. E caberá a Fanny liderar o grupo de jovens por terrenos perigosos e incertos.

Obviamente, o filme apresenta um grande conflito, que é a Segunda Guerra por si só. Mas, ao mesmo tempo, falha ao desenvolver conflitos que ameacem de fato a jornada da turma. Neste sentido, chega a ser risível uma "última ameaça" inserida repentinamente ao final da história.

O principal mérito da produção está ao tratar da guerra sob o olhar infantil, embora isso também não seja novidade e tenha sido melhor trabalhado em obras como A Vida é Bela e O Menino do Pijama Listrado. A boa notícia é que o elenco infantil é bom, com destaque para a protagonista Léonie Souchaud. Sua Fanny é ao mesmo tempo doce, determinada e insegura.

As crianças oferecem praticamente tudo que funciona na tela. A dinâmica com os adultos são, na maioria das vezes, pouco aproveitadas, pelo pouco desenvolvimento dos personagens mais velhos. Baseado na história real de Fanny Ben-Ami, o roteiro de Lola Doillon (também diretora da obra) e Anne Peyrègne é raso e dá pouco espaço aos adultos. Faz sentido dentro da opção de focar nas crianças, mas acaba prejudicando o filme inteiro, uma vez que não se formam vínculos em cena. A montagem de Valérie Deseine também não ajuda, com algumas passagens de tempo e espaço pouco naturais.

Le Voyage de Fanny (no original) pode agradar aos menos exigentes, mas oferece muito pouco a seu espectador. Há personagens e elementos interessantes. Mas tudo muito mal aproveitado.