Os monstros também amam
por Francisco RussoAo ser lançado em 2012, Hotel Transilvânia investiu forte em três vertentes: a recriação dos clássicos monstros do terror, em versões infantilizadas e exageradíssimas; a narrativa em torno da unidade familiar; e a defesa da união entre espécies, a partir do fim do preconceito entre tais seres e os humanos. Em sua segunda sequência, é claro que tais temáticas foram mantidas, mas com um toque que permite ir além do estabelecido até então.
À primeira vista, o subtítulo Férias Monstruosas engana justamente pela ideia implícita de ser este um mero gatilho (batido) para trazer de volta personagens queridos. Além de um certo frescor, a mudança de ambiente permite que o diretor Genndy Tartakovsky vá além nas brincadeiras em torno do universo dos monstros, mantendo sempre a proposta de piadas rápidas e surtadas. É o caso da deliciosa participação dos sempre insanos (e saudosos) Gremlins, assim como das recriações do Triângulo das Bermudas e da cidade perdida de Atlântida. Todas situações que conseguem abrir o sorriso nos pais sem deixar os menores entediados, graças à proposta infantilizada da franquia como um todo.
Além de tais novidades, há também uma certa mudança de foco na narrativa: desta vez, não é Drac quem teme perder a filhota Mavis, mas justamente o contrário. Tudo porque, após 100 anos sozinho, papai vampiro está agora de coração aberto para um novo amor - ou "tchan", pérola da dublagem nacional. A busca por uma nova companheira rende situações bem-humoradas, como a pesquisa via aplicativo de celular, habilmente modificada para que os trocadilhos (também) façam rir em português. Inclusive, é importante ressaltar a qualidade da dublagem brasileira neste sentido. Além do uso de um punhado de gírias locais - de vale night ao consagrado miga, sua louca!, passando por pinto no lixo, mozão e o paulistíssimo meu -, há também uma sutil brincadeira em torno da banda formada por peixes, cuja sonoridade lembra demais o swing de Wilson Simonal.
Outro acerto desta sequência é o belíssimo traço cartunesco da novata Erica, a capitã do cruzeiro que conquista o coração de Drac, que lembra demais os eternos Tintin e Betty Boop. Junta-se a isso as tradicionais referências visuais presentes na franquia, aqui citando de A Noiva de Frankenstein e Hairspray a uma escancarada homenagem a Meu Amigo Totoro, e ainda a divertida batalha musical presente no desfecho do longa-metragem, pela precisão na escolha das canções e também pela cutucada implícita ao ritmo bate-estaca que tanto sucesso faz nas raves mundo afora.
No mais, Hotel Transilvânia 3 segue a fórmula já consagrada pelos filmes anteriores, com personagens carismáticos fora de sua habitual zona de conforto. O brilho maior, como de hábito, fica por conta do Drac dublado (no Brasil) por Alexandre Moreno, sempre alternando o tom pomposo à galhofa necessária, especialmente quando o cupido o acerta em cheio. Uma sequência divertida, melhor que a anterior, que consegue ir além do clichê da típica viagem de férias ao trazer elementos novos que brilham intensamente, tanto pela nostalgia quanto pela dinâmica proposta.