Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Asco

Experiência pop

por Bruno Carmelo

De acordo com a sinopse oficial, esta história apresenta um homem que oferece um anel à namorada, mas é rejeitado por ela. Por isso, ele toma decisões drásticas. O conflito não se vê com tamanha clareza em tela: em cortes rápidos, ele fabrica um curioso anel, depois caminha com ele, e em seguida encontra-se solitário, calado ao lado de sua amada. Supõe-se que tenha sido rejeitado. Ela pergunta o que ele sente, e o título surge na tela em forma de resposta.

Desde o começo, Asco surpreende pela velocidade dos planos, pelo estilo nervoso-urbano-pop do conjunto. O diretor Alê Paschoalini recusa qualquer exposição fácil dos conflitos, enxergando na mistura de estímulos uma forma de virtude. Assim, o preto e branco contrastado combina-se com imagens superexpostas, a filmagem live action combina-se com vinhetas em animação, a trilha indie alterna-se com trechos de música latina, planos do rosto dos personagens alternam-se com imagens de um inexplicável homem sem rosto.

Com a multiplicação de recursos, registros e linguagens, algumas imagens se destacam. A protagonista sem nome (Sol Faganello) é belamente enquadrada, com seus cabelos esvoaçantes criando uma coroa de luz ao redor do rosto. O protagonista, igualmente sem nome (Guto Nogueira), tem bons momentos de solidão em casa, quando pássaros voam de suas costas, por exemplo. Sobram belezas dispersas na trama, mas a reunião destes elementos não ocorre de modo homogêneo.

Existe um saudável desejo de subversão e experimentação de linguagem, mas Paschoalini nunca explora a fundo suas escolhas. Produções experimentais como Mais do que Eu Possa me Reconhecer (para pegar o exemplo de outro filme do festival de Brasília 2015) adotam um estilo estético específico, e depois exploram a fundo suas intensidades, seus limites narrativos. Asco, por outro lado, alterna ideias como num brainstorming permanente.

O resultado é o esvaziamento dos personagens, que nunca ultrapassam a condição de corpos no espaço, de cabelos brilhando à luz da lâmpada, de quadris dançando num bar. Eles não têm complexidade, objetivos, dúvidas – vide o comportamento inverossímil do protagonista em relação o Homem sem Rosto, ou a passividade curiosa dela diante das várias ameaçadas do ex-namorado obsessivo.

Esta passividade, aliás, alimenta a impressão de misoginia da trama. Os únicos personagens dotados de voz são os homens, que se expressam em geral com falas machistas em relação à mulher. Ela, por sua vez, espera os novos ataques, sem reagir. Asco retrata o surgimento de um psicopata perigoso com um prazer condescendente, algo comprovado pela cena de tortura psicológica rumo ao final. Existem muitas ideias interessantes neste longa-metragem, mas também existem muitas ideias desinteressantes, e muitas ideias deslocadas. De modo geral, existem ideias demais, até mesmo nos créditos de conclusão, que homenageiam Stanley Kubrick e Didi Mocó.

Filme visto no 48º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, em fevereiro de 2015.