O mundo mágico da homossexualidade
por Bruno CarmeloOscar Madly (Connor Jessup) é um garoto criativo. Gosta de desenhar, ouvir histórias fantásticas e criar maquiagens de monstros. Quando criança, o pai brinca de “soprar sonhos” em sua cabeça. Mas então chega a vida adulta, descrita por uma série de tragédias: Oscar testemunha um assassinato homofóbico e presencia o dia em que a mãe abandona a casa, sem entender o motivo dessas duas tragédias. A infância é vista como o terreno de infinitas possibilidades, enquanto a vida adulta se dedica à destruição dessas ambições.
Por esta razão, O Monstro do Armário prefere se ater aos aspectos lúdicos da juventude. Embora Oscar já seja quase um adulto, ele mantém um hamster falante em sua casa e se enclausura numa casa na árvore, com luzes estroboscópicas, quando as coisas saem errado. Seu primeiro amor, um garoto do trabalho, é tratado com a ingenuidade de uma paixão entre dois pré-adolescentes, além de todos os clichês típicos do gênero: cenas de sedução no vestiário, um cheirando a roupa suada do outro etc. Visto por este ângulo, poderíamos estar numa produção familiar da Disney - não fosse pelo contexto da homossexualidade, é claro.
O problema desta abordagem sonhadora é a incoerência no tom. Por um lado, ela busca ser cor-de-rosa e afável, com muitos flares em tons violeta e música pop-eletrônica à exaustão. Por outro lado, aborda temas importantes sem profundidade, como a agressão homofóbica. O roteiro é tão indeciso quanto Oscar, conseguindo conjugar, num corte simples da montagem, uma cena de sexo comparada a estupro e os gritinhos do hamster dublado por Isabella Rossellini. O conjunto é permeado por elementos fantásticos, como o suposto monstro no estômago do garoto.
A soma de símbolos não esconde a história cheia de conveniências e reviravoltas inverossímeis. O pai (Aaron Abrams), visto como um sujeito amoroso na infância, é transformado num vilão perverso assim que o protagonista chega à fase adulta, sem que se compreenda a evolução de seu comportamento. A paixão pelo colega Wilder (Aliocha Schneider) torna-se óbvia, afinal, ele é tratado como o único outro garoto na cidade além de Oscar. Seria interessante que o roteiro desenvolvesse melhor os coadjuvantes, sem reduzi-los a acessórios ou satélites orbitando em torno do protagonista.
Mas nada disso importa em um projeto mais preocupado com a aparência pop, com os brilhos, tiques e efeitos. O estilo próximo do videoclipe, de novos cineastas canadenses como Xavier Dolan, já está gerando novos súditos no país, infelizmente. No final, reduzir o amor a truques de maquiagem e comparar um assassinato cruel com as “borboletas no estômago” pode parecer menos que afetivo: é uma escolha que desperta questionamentos sobre os limites éticos da representação.
Filme visto no 24º Festival Mix Brasil de Cultura da Diversidade, em novembro de 2016.