Críticas AdoroCinema
1,5
Ruim
Duda e os Gnomos

Sozinha na casa estranha

por Francisco Russo

É impossível não lembrar de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain ao assistir Duda e os Gnomos. Nem tanto pelo tom fantástico encampado pela história, mas especialmente pela adoção dos simpáticos gnomos de jardim como personagens cruciais. Na verdade, por mais que esta animação gire em torno dos humanos, é graças a estes pequenos seres de chapéu pontudo que o filme de fato existe - não por acaso, o título original Gnome Alone não apenas os cita, como ainda faz um trocadilho com o icônico Esqueceram de Mim.

Tal escolha mais uma vez não foi por acaso, já que o longa-metragem reprisa o conceito básico da comédia estrelada por Macaulay Culkin. Se nela o pequeno Kevin precisava enfrentar dois bandidos atrapalhados, aqui Duda conta com a ajuda dos tais gnomos para impedir uma invasão alienígena vinda de outra dimensão: são os trogs, seres arredondados que devoram tudo o que encontram pela frente. O problema é que, aqui, tal dinâmica de uma criança assumindo a responsabilidade, sem deixar de lado seu ambiente infantil, não funciona bem.

Em parte, devido aos problemas de ritmo da própria história. É curioso notar que Duda e os Gnomos funciona bem melhor quando retrata o pré-adolescente em seu ambiente contemporâneo, com o mundo girando em torno do celular e as inevitáveis castas escolares envolvendo populares e nerds. A dinâmica envolvendo Duda e os recém-conhecidos Liam e as BTC's, se não é original, ao menos prende a atenção. O mesmo não pode ser dito quando o filme envereda pelo lado fantástico, em parte pelo absoluto desperdício dos gnomos como personagens - sua presença é mais curiosa do que propriamente atraente ou até mesmo necessária. É como se o filme assumisse a popularidade de tais personagens sem lhes entregar um contexto envolvente, em parte devido às fragilidades lógicas do tal confronto com os trogs.

Senão, vejamos: em pelo menos dois momentos, Duda e os Gnomos abandona por completo a lógica implementada pela própria história. O primeiro caso acontece no mundo dos trogs, onde a gravidade ora é explorada pela narrativa, ora absolutamente esquecida; o segundo tem a ver com a necessidade da presença do tal cristal na casa para impedir a abertura de portais dimensionais onde os vilões chegam à Terra - tal regra às vezes é seguida e em outras completamente ignorada. Tamanha displicência prejudica bastante a imersão do espectador, ao menos os maiores, assim como o uso de um vocabulário um tanto quanto estranho na dublagem brasileira - "a casa tem um bom esqueleto"? "Manés e chulés"?

Os menores, Duda e os Gnomos busca cativar a partir de uma série de situações atabalhoadas e ao mesmo tempo "divertidas", como o tiro ao alvo explorado na caça aos trogs, e truques batidos envolvendo flatulências e repetições. O gancho principal está mesmo na identificação dos jovens, seja pela onipresença do celular ou mesmo em uma certa crueldade típica da pré-adolescência, associada à ausência quase completa de adultos. Soma-se a isto uma animação sem brilho, mas correta, e uma história dissecada nos mínimos detalhes, com exceção dos rombos de lógica existentes no roteiro. Estes, os produtores apenas torcem para que você não perceba.