Críticas AdoroCinema
1,5
Ruim
Deus Não Está Morto 2

O julgamento de Deus - Parte II

por Francisco Russo

Não é exagero dizer que Deus Não Está Morto foi uma das grandes surpresas de 2014, pelo lado mercadológico. Com um orçamento de apenas US$ 2 milhões, pífio para os padrões hollywoodianos, soube explorar o apelo cristão não apenas do povo norte-americano, mas também de outros países. No Brasil, por exemplo, foi visto por mais de 250 mil pessoas, mesmo estando disponível simultaneamente na Netflix. Nos Estados Unidos foram US$ 60 milhões obtidos nas bilheterias, o que dá uma boa ideia do lucro dos produtores. Diante de tais números, não chega a surpreender que Deus Não Está Morto 2 exista. Afinal de contas, lucrar é preciso - e, se o meio para tanto é explorar a fé alheia, que assim seja.

Como em time que está ganhando não se mexe, poucas foram as mudanças conceituais do filme original para esta continuação. A pregação explícita permanece, bem como o maniqueísmo na narrativa. Mais do que debater questões ou até denunciar arbitrariedades, este é um filme de louvação e, assim sendo, tendencioso e povoado por muitas frases de efeito. A diferença é que, agora, há um verniz mais palatável, tanto em relação à forma quanto ao conteúdo. Mérito, em parte, ao orçamento bem maior desta sequência, em torno de US$ 5 milhões, que possibilitou uma melhoria nítida em vários aspectos técnicos, especialmente na fotografia .

Já em relação à história, trata-se de uma variação do filme original. Se antes um aluno precisava confrontar um professor intolerante para provar que Deus existe, agora é uma professora que precisa defender sua crença. Não para a sala de aula, como antigamente, mas em um tribunal constituído, com direito a advogados e corpo de jurados - o que dá ao filme como um todo uma certa pompa. O curioso é que, por mais que o roteiro busque subterfúgios de fundo religioso para defendê-la - alguns até interessantes, como a incontestável existência de Jesus Cristo -, ele deixa de lado o argumento mais óbvio e decisivo acerca da inocência da ré: o fato dela, como professora de História, ter falado sobre pessoas que ficaram marcadas por terem lutado pelo que acreditavam, como Jesus, Gandhi e Martin Luther King, independente da crença religiosa que tenha. Simples assim.

É claro que, se isto acontecesse, não haveria filme. E o objetivo de Deus Não Está Morto 2 é se apropriar da saga da professora Grace Wesley (Melissa Joan Hart, correta) para, uma vez mais, incitar o confronto entre crentes e não crentes de forma a inflamar a massa cristã silenciosa, submetida a todo tipo de abuso e preconceito vindo de não-teístas. Ou seja, há todo um intencional processo de vitimização para ressaltar não apenas as arbitrariedades cometidas, mas também as reações raivosas de quem é contrário à protagonista. Só que há um detalhe importantíssimo: tudo isto é desnecessário, já que Grace está certa. É nos exageros dos estereótipos que o filme se perde, jogando por terra a credibilidade pela qual tanto luta.

Talvez o erro seja esperar alguma seriedade de um filme cuja função maior é, claramente, servir de propaganda ao ideal cristão. Assim sendo, estão perdoados os diálogos inflamados, assim como o careteiro advogado vilanesco interpretado por Ray Wise, que de imediato conquista a antipatia do público, seja lá o que faça em cena. Assim como a óbvia manipulação de figurino entre os dois advogados, um retratado como a elite e outro com um visual despojado e jovem, no melhor estilo gente como a gente. Ou ainda as várias subtramas que têm por função retratar a descoberta de Deus por não-crentes, e o quanto suas vidas melhoraram em decorrência disto.

Melhor que o original, mas ainda com os mesmos problemas conceituais em relação ao maniqueísmo com o qual sua narrativa é conduzida, Deus Não Está Morto 2 pode até agradar aos que resolvam assisti-lo com o objetivo de louvar crenças pessoais. Mas, para quem procura Cinema, deixa muito a desejar.