Apaixonados: Crítica AdoroCinema

A proposta de Apaixonados é muito clara: trata-se de uma comédia popular situada na festa brasileira mais popular da atualidade, o Carnaval. É no clima dos festejos de Momo, em meio à muita sensualidade e pegação, que o diretor Paulo Fontenelle (Se Puder... Dirija!, Divã a 2) apresenta a história de três casais que se formam em plena folia. Cada um deles com características peculiares que, de certa forma, tentam transmitir uma certa diversidade existente na própria festa.

Diante desta intenção, é curioso notar que a cena inicial do longa-metragem se dá justamente em um elevador quebrado, bem longe de toda e qualquer agitação. É lá que Leo (Raphael Viana) e Cássia (Nanda Costa) se conhecem e se apaixonam, sem nem mesmo revelar o nome um ao outro. A tensão decorrente do início iminente toma conta da cena, sendo também o único momento em todo o filme onde o clima típico de romance é explorado. A partir de então ganha espaço a comédia de desencontros, já de olho no (inevitável) final feliz. E se você ficou chateado com o spoiler, pense rápido: quantas comédias românticas existem onde o casal principal não termina junto?

É claro que, para que isto aconteça, o longa passeia pelos bastidores do Carnaval carioca. Como Cássia é porta-bandeira da Grande Rio, esta é a deixa para uma espiada nos bastidores da escola de samba e em seu desfile no Sambódromo. Os demais casais servem também a este objetivo de oferecer um panorama geral do Carnaval carioca, retratando dos bailes refinados aos animados blocos de rua. A Mangueira e o Vidigal, dois ícones do samba local, também ganham espaço.

É nestas idas e vindas que o diretor situa os demais casais da trama. O melhor deles é o formado por Scott (Danilo de Moura) e Uitinei (Evelyn Castro), especialmente pelo personagem do gringo preso no Rio de Janeiro que odeia samba. Tamanho contraste com o ambiente dominante gera momentos divertidos, seja pela boa atuação de Danilo ou pelos diálogos sempre insinuantes (e com uma boa dose de humor) dela. Já o terceiro casal, formado por Roberta Rodrigues e João Baldasserini, soa pouco convincente ao investir no batido tema da diferença de classes sociais em pleno Carnaval.

Por mais que seja uma produção com uma forte pegada televisiva, Apaixonados é honesto em sua proposta e no que entrega ao público. O roteiro por vezes dá umas derrapadas, especialmente quando o desfile no Sambódromo se aproxima - a resolução da subtrama da rainha de bateria é quase um conto de fadas. Por outro lado, é bom ver o sempre carismático Roberto Bonfim de volta à ativa e o filme tem lá seus bons momentos, como a citada cena do elevador e a inusitada ida de Scott e Uitinei ao morro da Mangueira.