Clássico revisitado
por Francisco RussoTodo país tem suas tradições. Se no Brasil a proximidade do fim de ano significa que Roberto Carlos vem aí com seu habitual show na TV, nos Estados Unidos a época é recheada de especiais de Natal. A diretora Sofia Coppola e o astro Bill Murray, veteranos do icônico Encontros e Desencontros, aproveitaram a deixa para fazer uma homenagem que, ao mesmo tempo, é uma provocação ao formato. Assim nasceu A Very Murray Christmas, média-metragem lançado diretamente na Netflix.
Sim, você leu bem, média-metragem – e não é à toa. A proposta de um filme de apenas 56 minutos é mais uma citação ao formato habitual do especial de Natal, em torno de uma hora. Aqui, Bill Murray assume o posto de mestre de cerimônias: de um especial de Natal e do filme em si. Uma dupla função conduzida muito graças ao inegável carisma do ator, que consegue fazer com que mesmo situações desconexas tenham uma certa graça devido ao seu sarcasmo habitual. Para tanto, o projeto conta ainda com um trunfo: a persona pública dos convidados.
Muito da graça de A Very Murray Christmas vem das súbitas aparições de celebridades que, uns de forma inusitada e outros não, cantam. Há gratas surpresas, como a belíssima voz de Maya Rudolph, e também participações espirituosas como a de George Clooney, mais uma vez assumindo a imagem de bonachão, e até um desengonçado Chris Rock, que surge em cena meio sem motivo. Este, por sinal, é o problema maior do filme. Apesar de ter uma narrativa básica, em torno do tal especial de Natal que seria apresentado por Murray, suas bases de sustentação são frágeis até demais. Por mais que Sofia Coppola busque sempre a superficialidade, até mesmo para ter liberdade absoluta em cena, este mesmo elemento é também responsável por um início um tanto quanto instável e pouco convincente. Apenas quando Murray se livra das amarras de ter que fazer um especial de Natal é que o filme ganha a desenvoltura necessária para um projeto tão espirituoso como este.
Diante disto, A Very Murray Christmas é um filme onde é necessário que o espectador embarque fundo na proposta, até mesmo para apreciar o sarcasmo existente ao longo de todo o média-metragem. Simpático, mas também irregular, ele melhora com o passar do tempo – mas é preciso ter uma certa paciência em seu terço inicial.