Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
O Dia do Atentado

Para norte-americano ver

por Renato Hermsdorff

No original, O Dia do Atentado se chama Patriots Day, o que, em tradução livre, significa o Dia do Patriota (e também tradicional feriado nos Estados Unidos). A partir de uma tragédia real (mais uma vez), protagonizada por Mark Wahlberg (novamente), a produção de Peter Berg (Horizonte Profundo) cumpre o que o título sugere: é um retrato panfletário do orgulho dos norte-americanos (ferido em tempo de ataques terroristas). Mas tem seu valor.

Aqui, diretor e ator repetem a parceria (também firmada em O Grande Herói) tendo como pano de fundo os eventos terroristas que ocorreram durante a Maratona de Boston em 2013. Para remontar o clima de horror, Berg divide seus personagens em grupos, que são o foco da apresentação do filme.

As explosões são o ponto de virada na vida dos profissionais da polícia diretamente envolvidos no caso: o sargento Tommy Saunders (um somatório de pessoas reais, interpretado por Wahlberg) e sua esposa, Carol (Michelle Monaghan, sem função); o chefe dele, Ed Davis (John Goodman); o também sargento Jeffrey Pugliese (J.K. Simmons); o agente do FBI Richard Deslauries (Kevin Bacon); e mais uma série de profissionais “de apoio”. Mas não só. Nas horas que antecederam o atentado, também conhecemos a rotina dos responsáveis por detonar as bombas; o dia a dia de um jovem casal jovem; um pai dedicado ao filho pequeno.

A regra é clara. Com a estrutura, Berg (coautor do roteiro) tem a intenção de humanizar o aspecto trágico do ocorrido – tarefa na qual é bem-sucedido, apesar do excesso de personagens (o que resulta em uma produção de mais de duas horas de duração). É um exemplo de como o cineasta segue a cartilha “clássica” hollywoodiana por excelência de contar uma história linear, em três atos – o que faz muito bem, aliás.

Assim como no “honesto” Horizonte Profundo, Berg evita a pirotecnia pura e simples e procura remontar o “objeto de seu estudo” com precisão, usando de imagens hiper realistas (o senão, aqui, é a falta de moderação no uso da câmera tremida). Por outro lado, constrói uma trama parcial e pouco crítica, que descamba para uma opção ingênua e apelativa como solução para combater o terrorismo. Pode-se dizer que Peter Berg é um meio termo entre Kathryn Bigelow (A Hora Mais Escura) e Michael Bay (13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi).

Ele intercala momentos de lucidez (há uma cena muito simbólica de interrogatório entre duas personagens femininas) com o "mais do mesmo" da indústria do cinema americano (há frases de efeito pontuadas aqui e ali). Mas, para uma obra que pretende discutir um ato terrorista (real), independente da abordagem, não oferecer perspectivas é um erro grave.

Sim, é sabido que os responsáveis pela desgraça eram uma dupla de irmãos muçulmanos (é fato. História). Mas O Dia do Atentado aceita a religião como única justificativa para o caráter “vilanesco” dos criminosos. Se a ganância da iniciativa privada parecia mais palpável como antagonista em Horizonte Profundo, aqui há (ou deveria haver) mais complexidade envolvida. Longe de justificar o comportamento facínora, falta contextualização ao caso, ausência que soa ainda mais grave considerando o clima de Fla-Flu que o país vive atualmente, sobretudo depois da eleição de Donald Trump.

Por mais eficaz que o filme seja em sua intenção imersiva, o resultado é uma romantização (piegas, no fim das contas), que joga para (e não provoca) a plateia. Joga para os norte-americanos, no caso.