Jornada sem conflito
por Lucas SalgadoFatah (Fatsah Bouyahmed) é um humilde fazendeiro argelino que sonha em participar de uma grande feira de agricultura, realizada em Paris. Após várias tentativas, ele finalmente consegue inscrever sua vaca Jacqueline em um concurso na feira. Sem muitos recursos, ele decide sair da Argélia e cruzar toda França à pé para chegar a Paris. A única companhia é a de sua vaca.
O título A Incrível Jornada de Jacqueline, obviamente, remete a jornada de Fatah e Jacqueline. Eles passam por inúmeras situações inusitadas pelo caminho e acabam descobertos pela mídia, sendo transformados em sensações.
Uma palavra define bem o longa: simpático. É um filme que deixa o espectador com um sorriso no rosto. Não oferece muito em termos de história ou linguagem, mas é um passatempo agradável e inofensivo.
A inocência de boa parte dos personagens e a simplicidade narrativa incomoda um pouco. Bouyahmed e Jamel Debbouze são atores competentes, mas surgem em performances quase unidimensionais. O veterano Lambert Wilson até tenta desenvolver um pouco mais seu personagem, mas é prejudicado por um roteiro simplório e até um pouco preguiçoso. É muito questionável a forma como o texto trata a depressão do personagem.
Dirigido por Mohamed Hamidi, La Vache (no original) é uma obra repleta de boas intenções. É basicamente um conto de fadas, com um protagonista honesto, sem falhas e sonhador. O problema é que, na maioria das vezes, um conto de fadas precisa de um vilão. Quer dizer, nem precisa ser um vilão, mas é necessário que haja conflito. E isso é o que falta na produção francesa. Não há conflito. Em momento algum o espectador teme por seu protagonista e sua jornada.
Mesmo contando com apenas 92 minutos, o filme sofre bastante com problemas de ritmo. Acaba prejudicando a experiência do expectador. Sem conflito, o que temos é uma repetição de "pequenas crises" e situações curiosas. A premissa é interessante e o filme tem seus momentos, mas definitivamente não é nada memorável.