Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Vai que Dá Certo 2

Mais ação, menos humor

por Bruno Carmelo

Em 2012, Vai que Dá Certo conquistou grande sucesso de bilheteria apostando em fórmulas típicas do humor contemporâneo. Por um lado, o diretor Maurício Farias brincava com a comédia autoindulgente composta por adultos “infantis, mas de bom coração”, como nas histórias americanas de Seth Rogen e Jonah Hill. Por outro lado, investia na obsessão do cinema nacional pelo enriquecimento súbito, que tem financiado projetos como Até que a Sorte nos Separe, Um Suburbano Sortudo e Tô Ryca.

O retorno financeiro permitiu não apenas a sequência, mas também um acréscimo considerável no orçamento. Por isso, Vai que Dá Certo 2 tenta ser ao mesmo tempo uma comédia e um filme policial, investindo em cenas de ação com a presença de bandidos e mafiosos. Enquanto a primeira história mantinha um único ponto de vista, com todos os amigos atrapalhados embarcando no mesmo plano, agora a narrativa investe em tramas paralelas: existe mais de um plano ocorrendo ao mesmo tempo e os personagens agem em pequenos grupos, com intenções e tons distintos.

O resultado é um filme disperso, fragmentado. Enquanto Fábio Porchat e Felipe Abib reproduzem as piadas imaturas, próximas do espírito do primeiro filme, Danton Mello parece atuar em um drama. Já Vladimir Brichta e Felipe Rocha demonstram a seriedade de um filme policial comum. Cada um sabe desempenhar muito bem o seu papel, e os atores são inegavelmente talentosos, mas a fusão de gêneros não é nada harmônica – vide as incômodas cenas de humor sobre o luto e sobre pessoas morrendo queimadas. Vai que Dá Certo 2 passou a se levar a sério, adquirindo um tom grave que realça as fragilidades do roteiro.

Isso porque as piadas são raras, e as cenas de ação não convencem. Porchat e Abib multiplicam as referências à cultura pop e nerd, que podem ser condizentes com o universo da franquia, mas tornam os diálogos artificiais. Já os momentos de ação trazem escolhas no mínimo curiosas da direção: no meio de um grande tiroteio, a câmera fica abrigada nas trincheiras, ocultando a ação. Para que investir num gênero repleto de armas e vilões se, na hora do grande confronto, esconde-se a recompensa prometida? Tecnicamente, o resultado deixa a desejar, com uma fotografia deficiente, som mal trabalhado nas cenas internas (ah, os diálogos na cozinha!) e uma decupagem tipicamente televisiva.

Vai que Dá Certo 2 perde sua identidade ao expandir as dimensões do projeto. O primeiro filme cativou o público por sua simplicidade, pelo plano obviamente amador do grupo de amigos. Mas a sequência inclui ladrões profissionais e policiais corruptos experientes, o que dilui o aspecto voluntariamente tosco das ações. Isso sem falar no machismo que atravessa a trama: as mulheres só conseguem resolver seus problemas através da sedução, enquanto o desejo sexual feminino e a prostituição constituem motivos de escárnio. Os adultos-adolescentes da saga envelheceram, mas não evoluíram: se perderam pelo caminho.