Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Epa! Cadê o Noé?

Fábula revisitada

por Francisco Russo

A proposta desta animação é bem interessante e até inusitada: e se, às vésperas do dilúvio, alguns animais não conseguissem embarcar na salvadora arca de Noé? Consciente das consequências que algo do tipo traria, os responsáveis por esta coprodução Luxemburgo/Alemanha/Bélgica/Irlanda/Estados Unidos aproveitaram o gancho para inserir, de forma sutil e necessária, elementos evolucionários pregados por Charles Darwin. Tudo sem tornar a narrativa didática ou maçante para os menores, mas ao mesmo tempo respeitando a inteligência daqueles que os acompanham.

Senão, vejamos: os dois seres protagonistas desta animação, os nestrians e os grymps, não existem nos dias atuais - o que, de certa forma, já dá uma pista do que vem por aí. É claro que, para atrair o público infantil, ambos têm características bem explícitas: os adoráveis nestrians mais parecem bichos de pelúcia coloridos e soltam uma fumaça para se proteger - o que, é inevitável dizer, levanta a possibilidade de piadas envolvendo flatulência, por mais que não seja exatamente isto que aconteça -, enquanto que os grymps possuem o ar raivoso de lobos, com uma espécie de "tatuagem" na testa. É claro que temperamentos tão distintos vão bater de frente e, como acontece em toda aventura infantil, juntarão forças em uma aventura repleta de aprendizados. Até aí, sem problema algum. Faz parte do gênero.

A questão maior é que a narrativa entrega algumas inconsistências consideráveis em relação à história como um todo. Por exemplo, se o objetivo da arca é garantir a existência das espécies, como é permitido que mãe e filha embarquem juntas, sem qualquer macho? Outro ponto: por mais que o dilúvio seja causado por 40 dias e 40 noites de chuva ininterrupta, algo que é lembrado pelo próprio filme, o que menos se vê em cena é chuva. Talvez por uma questão de manter a tela mais limpa, sem a "poluição visual" das gotas constantes. Ainda assim, soa estranho ver o nível da água subir sem parar sem que haja um motivo real para tanto.

Tais falhas conceituais acabam minando bastante o longa-metragem, ao menos para os adultos. Para as crianças, é fato que o filme dá um enfoque especial ao lado colorido e de bons sentimentos. Mas é também mais voltado aos pequeninos, com até cinco anos de idade, mais ou menos. Os maiores podem achar tudo muito ingênuo, e realmente é - o confronto com o leão é o maior exemplo disto.

Por mais que seja bastante simples, ainda assim Epa! Cadê o Noé? traz momentos interessantes. Como o passeio a la montanha-russa dentro de um túnel, feito nitidamente para explorar o efeito 3D, ou a brincadeira envolvendo dois estilos de videogame, pelo lado visual. No fim das contas, trata-se de um filme que, se não chega a brilhar, até consegue prender a atenção e ainda oferecer um interessante lado instrutivo. Razoável.