Críticas AdoroCinema
4,0
Muito bom
Vizinhos 2

‘Porralouquice’ com responsabilidade

por Renato Hermsdorff

Se você acabou de entrar para a irmandade, precisa saber que Vizinhos é uma franquia (já dá para chamar de franquia?) de bro’. Ou seja, uma produção com foco no universo da brodagem (camaradagem) masculina, com muita maconha para Seth Rogen curtir, alguns motivos para Zac Efron – a Megan Fox de calças (ou melhor, sem) – tirar a camisa (a audiência feminina também precisa ser contemplada) e alguma dose de humor físico e escatológico jackassiano.

Se a combinação, no primeiro filme, já resultava surpreendentemente divertida, nesta sequência, a equipe vai além e, além de garantir as risadas, ainda traz um subtexto reflexivo –  sem que a característica seja acompanhada de um tom professoral (chato) ou politicamente correto. O que faz de Vizinhos 2 ainda melhor do que o primeiro.

Como não se mexe em fraternidade que está ganhando (ao custo de US$ 18 milhões, o filme de 2014 arrecadou mais de US$ 270 milhões no mundo todo e conta com mais de 70% de aprovação no Rotten Tomatoes), Vizinhos 2 repete a estrutura de Vizinhos. Desta vez, com um novo bebê a caminho, Mac (Rogen) e Kelly Radner (Rose Byrne) compram uma casa maior no subúrbio e decidem vender a construção que foi atormentada pelo vizinho Teddy (Efron) e amigos no primeiro filme.

Por outro lado, Shelby (Chloë Grace Moretz) acaba de ingressar na universidade e, ao descobrir que as fraternidades femininas não têm permissão para promover suas próprias festas, resolve virar esse jogo e fundar a estrondosa Kappa Nu, bem ao lado... do casal Radner, claro. Acontece que os descuidados Mac e Kelly precisam de um prazo de 30 primeiros dias para concretizar a transação da antiga casa, período em que as meninas vão precisar ser “controladas”.

Desta vez escrito por Seth Rogen (e outros quatro roteiristas), que também é produtor do filme, Neighbors 2: Sorority Rising (título original, que quer dizer Vizinhos 2: Ascensão da Fraternidade Feminina) é um retrato escrachado – como o tom da comédia pede – da atual juventude norte-americana e dos desafios da paternidade jovem. Há ótimas piadas sobre a recusa em se sair da adolescência (hello, Zac!), o conflito geracional (Rogen usa da autoironia para se chamar de velho aos 34), a “culpa” inerente à educação de uma criança – em suma, uma boa dose de humor nonsense em que os atores, ótimos, riem de si mesmos. (Sim, tem vômito, cocô e menstruação, mas não é esse o tipo de humor que define o longa-metragem).

Cavando um pouquinho mais, o substrato do filme é também e essencialmente feminino. Ele ratifica o direito delas de frequentarem festas vestidas de moletom, mas não crucifica as que preferem um tubinho preto, ou seja, a produção legitima o direito das mulheres de não querem ser vistas como símbolos sexuais, ao mesmo tempo em que não condena quem assim deseja ser encarada. E a produção ainda aborda o comportamento homossexual com naturalidade – o que, convenhamos, é raro (se não inédito) em um bro´ movie.

É claro que nada disso faria sentido não fosse a comédia um filme divertido. E Vizinhos 2 cumpre o que promete. Combinando entretenimento do bom, com uma leve dose de consciência social (não, não vai doer), até que os responsáveis acharam um bom pretexto para tirar a camisa de Zac Efron.