Rir do mais fraco
por Bruno CarmeloA primeira cena desta comédia romântica é a melhor de todo o filme: uma advogada (Virginie Efira) chega em casa e tenta, num plano sequência, preparar seu banho de banheira, atender ao chamado de um desconhecido que encontrou o seu celular e também atender a outra ligação, do ex-namorado agressivo. A imagem contínua acentua a confusão da protagonista, enquanto os diálogos em off apresentam rapidamente os três personagens principais. Infelizmente, as boas escolhas narrativas param por aí.
O filme francês adapta a trama do original argentino Coração de Leão – O Amor Não Tem Tamanho. O sucesso de bilheteria de Marcos Carnevale trazia alguns méritos e muitos problemas: por um lado, abordava de modo frontal as dificuldades de ser anão numa sociedade despreparada para lidar com este fator. A cena de amor entre a protagonista e o novo namorado, com o pequeno corpo nu diante do espelho, era bastante forte. Por outro lado, abusava também das piadas insensíveis relacionadas à altura do personagem. Além disso, apontava a riqueza do homem como compensação, ou seja, ele poderia ser anão, contanto que tivesse dinheiro suficiente para alugar um helicóptero e surpreender a parceira.
Um Amor à Altura, curiosamente, apara as duas arestas. O humor torna-se um pouco mais discreto, menos ofensivo. Mas o teor crítico também é atenuado: a conversa dolorosa entre Diane e sua mãe é trocada por uma simples confusão no trânsito, uma briga séria entre os namorados se transforma numa discussão calma e rápida no quarto. O resultado é morno, provocando mais sorrisos amarelos do que risadas ou reflexões. O diretor Laurent Tirard prefere uma abordagem inofensiva, ensolarada, repleta de músicas indie pop e perspectiva de otimismo no final de cada cena.
Mas o interesse principal, tanto na edição argentina quanto na refilmagem francesa, encontra-se na decisão de encolher digitalmente um astro de estatura normal. Coração de León diminuía o talentoso Guillermo Francella, enquanto a nova versão encurta Jean Dujardin. A curiosidade encontra-se em ver uma figura conhecida em formato atípico, num prazer não muito diferente de ver homens vestidos de mulher, magros vestidos de gordos etc. Este é o humor circense, como se o anão fosse uma figura engraçada em si – premissa obviamente preconceituosa. Neste sentido, a versão brasileira da mesma história, em fase de preparação, sai com vantagem em relação às demais por contratar um ator anão no papel masculino principal.
Além da questão de representatividade, Um Amor à Altura é prejudicado pelas escolhas estéticas e de elenco do diretor. Jean Dujardin é sempre muito talentoso para a comédia, mas se mostra menos hábil nos instantes dramáticos, já Virginie Efira demonstra pouca versatilidade na transição entre os dois registros, sem conseguir explorar o potencial dos diálogos. A parte central do filme também carece de ritmo, como se a montagem editasse o material cômico nos moldes de um drama tradicional. O resultado é uma obra ainda mais frágil que sua antecessora, mantendo a escolha questionável de rir das minorias sem oferecer voz às mesmas.