Críticas AdoroCinema
2,0
Fraco
Entrando Numa Roubada

Os atores que não conheciam o cinema

por Bruno Carmelo

Uma equipe acaba de realizar um filme de sucesso, mas não recebe o dinheiro pelo trabalho e cai no esquecimento. Com exceção de um único ator (Júlio Andrade), os outros parecem não se questionar sobre o sumiço de seus salários. Um roteirista desconhecido (Bruno Torres) cria uma história do dia para a noite e ganha 100 mil reais do governo para fazer um filme. A mesma equipe ingênua acredita num suposto método de atuação polonês, e nunca se dá ao trabalho de pesquisar a ideia a fundo. Eles passam a roubar bancos de verdade, acreditando estar gravando um filme – e ninguém liga para o fato de que a única e minúscula câmera disponível está muito longe do local onde estão atuando.

Entrando Numa Roubada é um filme de absurdos. A história estabelece diversas regras, apenas para quebrá-las na cena seguinte. É difícil acreditar nestes personagens, em suas ações, em sua ingenuidade: “Será que os atores estão bem lá atrás?”, pergunta uma atriz (Deborah Secco) depois de ver dois veículos se chocarem numa imensa explosão, construída com efeitos especiais de baixa qualidade. A tal magia do cinema, que nos faz acreditar em coisas impossíveis, é aplicada a um grupo de atores experientes: ora, como estas pessoas acreditariam na mágica se conhecem a mecânica dos truques?

O diretor André Moraes está mais interessado no suspense, na ação e na linguagem pop do que no aprofundamento dos personagens ou na lógica de seus conflitos. Seguindo os moldes de 2 Coelhos, produção politicamente conservadora com linguagem de videoclipe, Moraes fragmenta as suas cenas, aumenta o som da trilha sonora e usa efeitos especiais até nos momentos mais inesperados (ah, a risível fachada do hotel!). É tentador comparar o filme com o filme-dentro-do-filme: ambos os diretores são munidos pela ilusão de poder fazer algo incrível sem recursos suficientes nem desenvolvimento plausível da história.

À medida que a trama se desenvolve, fica claro que o roteiro foi alterado diversas vezes, ganhando muitas versões na mesa de montagem. Entrando Numa Roubada tenta incluir uma quantidade de reviravoltas incompatível com a duração de 77 minutos. Por mais que o elenco e a equipe pareçam comprometidos, vários elementos ficam soltos, como o papel do chefe interpretado por Tonico Pereira, a participação especial de José Mojica Marins, a cena inverossímil com o psiquiatra ou o estilo heavy metal do pastor evangélico (Marcos Veras), um dos vilões mais caricatos do cinema recente.

É louvável que o cinema brasileiro invista em produções de gênero, em fusões de estilos, em cenas de ação e efeitos especiais. Mas Entrando Numa Roubada, assim como o recente filme de terror O Amuleto, privilegia a atmosfera à trama, a aparência ao conteúdo. De nada vale ter perseguições em alta velocidade se elas não fizerem sentido na história, de nada vale fazer citações a super-heróis se o tom não estiver consolidado. No final das contas, a comédia não é divertida, nem o suspense é empolgante. Talvez numa próxima produção, o promissor André Moraes reúna novamente seu grande elenco – afinal, não é todo diretor que consegue convocar Deborah Secco, Lúcio Mauro Filho e Júlio Andrade em seu filme de estreia – para um roteiro digno do talento de todos os envolvidos.