Distopia furada
por Lucas SalgadoUniversos distópicos estão na moda nos cinemas nos últimos tempos. Jogos Vorazes, Maze Runner e Divergente são algumas das inúmeras produções a investir num cenário futurístico de pouca esperança. O Círculo não é nada parecido com os longas citados, mas isso não significa que não trate de um cenário de distopia, marcado pela promessa de uma liberdade extrema, que acaba levando à supervisão completa.
Tematicamente, o longa é interessante justamente por abordar um cenário futurístico que é quase presente, que nos deparamos com elementos no nosso dia a dia, especialmente no que diz respeito ao mundo das redes sociais.
Mae Holland (Emma Watson) é uma jovem que acaba de conseguir um emprego em uma ambiciosa empresa do mundo da comunicação, The Circle. Em pouco tempo, ela cresce na empresa e chama a atenção do líder da companhia, Bailey (Tom Hanks). Vendo o potencial social da garota, o chefe propõe que ela abra sua vida completamente para o público, sendo "acompanhada" por câmeras por todos os lados. Precisando cuidar da saúde do pai, ela aceita e, aos poucos, começa a sentir falta de sua liberdade.
O filme é muito atual, colocando em discussão este universo em que empresas são objeto de idolatria. Por sinal, a Circle tem muitos elementos que lembram companhias como Apple e Facebook. Neste sentido, há a clara sensação de oportunidade perdida. Num cenário em que as redes sociais estão cada vez mais abrangentes e que os registros de stories fazem parte do dia a dia real do público jovem, The Circle (no original) falha ao comunicar suas intenções.
E boa parte da culta cai sobre os ombros do diretor e roteirista James Ponsoldt, de O Maravilhoso Agora, O Fim Da Turnê e Master of None. O pobre roteiro também é de responsabilidade de Dave Eggers, autor do livro que inspirou o projeto. O fato de nomes interessantes estarem envolvidos com a obra só torna mais dolorosa a constatação de que estamos diante de um longa que promete muito, mas não entrega nada.
Pensando em filmes que abordam avanço de tecnologia ou redes sociais, O Círculo está mais para Transcendence - A Revolução do que para A Rede Social, o que é uma pena. Tudo é jogado mastigadinho no colo do espectador, não há espaço para reflexão. Tudo é muito óbvio e definitivo, falta margem de interpretação e desenvolvimento de personagens.
Nem Watson, Hanks, John Boyega, Karen Gillan, Ellar Coltrane ou Patton Oswalt conseguem salvar a produção. Pior, no caso de Hanks, fica difícil entender o que o fez embarcar nesta jornada furada.
É uma obra ambiciosa? Sem dúvida! É uma obra que consegue entregar o que se propõe? De forma alguma. Tudo é tão superficial e o suspense é tão mal desenvolvido que em alguns momentos parecemos diante de uma comédia. O problema é que também não funciona como humor, afinal estamos rindo pelos motivos errados.