O retrato de uma época. E da nossa época.
por Renato HermsdorffNão é de hoje que o trabalho de Philip Roth é adaptado para os cinemas. Mas, cada vez mais, o escritor tem sido adotado por cineastas que querem marcar posição em Hollywood como uma espécie de “selo de qualidade intelectual”.
Foi assim, recentemente, com Barry Levinson (Rain Man) e sua tentativa de voltar a ser relevante para a indústria, com O Último Ato (2015); será assim com Pastoral Americana, estreia do ator Ewan McGregor na direção; é assim com o début de James Schamus – mais conhecido como produtor, de filmes como O Segredo de Brokeback Mountain – na função, com este Indignação.
Com frequência, são histórias de época, que partem de uma família perfeita – em geral judia –, cujo castelo de cartas desmorona ao longo da trama. Com Indignation (no original) não é diferente. À beira de eclodir a Guerra da Coreia, Logan Lerman (Percy Jackson) – ele mesmo produtor executivo do longa – é Marcus Messner, um jovem estudioso, filho de pais superprotetores, em vias de sair de casa e entrar para a universidade.
Lá, ele se encanta por Olivia Hutton (Sarah Gadon, de Mapas para as Estrelas), menina recatada na aparência, mas de comportamento um tanto “moderno” para o período (estamos falando dos anos 1950), ao mesmo tempo em que tem que lidar com a “pecha” de judeu em um ambiente católico quando, na real mesmo, ele se julga ateu.
Indignação é o típico filme de amadurecimento, um melodrama um tanto convencional, mas que se “gradua” na veracidade dos diálogos. Há um tanto de conservadorismo e hipocrisia a se discutir a partir dos conflitos religiosos e sexuais que a produção apresenta, de maneira convincente e comedida, evitando o clichê do histrionismo tão comum a esse tipo de enredo. Ponto para o roteiro, que Schamus também assina.
Por outro lado, há um acúmulo de situações repetitivas, do ponto da dramaturgia, que prejudicam a fluidez da trama. O realizador não parece preocupado em fazer concessões ao espectador (o que é bom) quando estica as cenas do filme. Não é exatamente esse o problema. Aliás, o ponto alto de Indignação é uma longuíssima passagem em que Marcus é confrontado pelo reitor da universidade, Dean Caudwell (Tracy Letts). O ritmo se quebra é quando as ações são usadas para cumprir a mesma função narrativa.
Unindo de forma competente as pontas do início e do fim do filme, o que James Schamus faz nessa estreia é mais do que traçar o retrato de uma época. Indignação é também o reflexo da nossa época.