Fogos de artifício
por Bruno CarmeloA pônei Twilight Sparkle planeja uma festa para o povo de Equestria. O evento não pode ser apenas bonito, ele tem que ser fabuloso, em suas palavras, com direito ao máximo luxo e beleza. Este reino rosado é interrompido pela chegada de um vilão, buscando destruir a todos e dominar o mundo. Pode-se perceber, pela premissa, que a sutileza não é o forte de My Little Pony: O Filme, produção adaptada da famosa série de televisão. Para alguns espectadores e críticos, ele traz tudo de que as crianças realmente precisam: muitas cores e ensinamentos morais.
Mas talvez os pequenos precisem de um pouco mais do que isso. Nas produções infantis – a grande maioria multicolorida e cheia de mensagens – importa menos o que é mostrado do que a maneira como essas coisas são mostradas. É nesse aspecto que a jornada da princesa e suas amigas encontra alguns problemas. Na construção das imagens, o diretor Jayson Thiessen contenta-se com o acúmulo, colocando o máximo de personagens possível no mesmo enquadramento, sobrepostos aos cenários coloridos e cheios de acessórios. Não existe separação pela profundidade de campo, uso do espaço extra-quadro, dos sons distantes: o mundo se comprime dentro do quadro, numa saturação que incomoda ao invés de impressionar.
De modo geral, Thiessen compreende que o universo feminino infantil se resume a cinquenta tons de rosa, com gritos agudos das pôneis coadjuvantes e um carnaval de reviravoltas dinâmicas que pouco importam à trama – quando uma colega está em perigo, as protagonistas preferem se divertir um pouco debaixo d’água antes de salvá-la. As personagens são intercambiáveis, resumidas a uma característica única: a caipira, a espontânea, a vaidosa etc. Estamos no terreno da aparência, do luxo, da ostentação. As pôneis voam falando em comer cupcakes, correm pensando na aparência de seus cabelos. De acordo com o roteiro, uma menina feliz – afinal, as figuras animais representam garotas pequenas – é aquela que tem amigos, família e muitas peças de figurino para mostrar às amigas.
Essa talvez seja a principal mensagem do filme, mais do que os valores clássicos de amizade, respeito ao próximo e compaixão com as diferenças, também presentes. Os ensinamentos de virtudes são proferidos com clareza ímpar, porém diluídos pela superficialidade das personagens. Quem vai acreditar no verdadeiro valor da amizade quando Rainbow Dash, correndo o risco de entregar todos os personagens ao inimigo, prefere desenhar arco-íris chamativos no céu, por simples prazer? Pelo menos, nas cenas musicais, o filme manifesta originalidade nas composições das imagens e no ritmo enlouquecido. Os números envolvendo um gato ou a conscientização política das aves são particularmente bem orquestrados.
No final, My Little Pony: O Filme lembra uma queima de fogos de artifício de 100 minutos de duração. O espetáculo se resume às cores variadas e formatos espalhafatosos, organizados de modo caótico, sem traçar uma narrativa relevante, apelando aos estímulos primários – a atenção à cor, ao brilho, ao movimento. O resultado recorre às sensações ao invés dos sentimentos ou do intelecto. Como nas queimas de fogos, quando acaba o show, pouco sobra na memória do espectador.