Críticas AdoroCinema
1,5
Ruim
I'm a Porn Star

Sexo monótono

por Bruno Carmelo

Desde que começou o Rio Festival Gay de Cinema 2014, I’m a Porn Star apresentou a salas mais cheias, com ingressos esgotados e diversos espectadores curiosos para conhecer os bastidores da indústria pornográfica gay, com direito a depoimentos e segredos revelados por alguns dos mais famosos nomes do ramo. O diretor Charlie David também se mostra muito ambicioso: além de falar sobre o pornô atual, ele tem a pretensão de construir um panorama histórico do cinema pornográfico, desde o início do século XX até os dias de hoje – tudo isso em 80 minutos.

Aí começam os problemas de I’m a Porn Star. Seu início é didático e acelerado, com um narrador resumindo décadas de cinema em duas ou três frases, do tipo “Nos anos 1940, tal filme revolucionou a indústria; nos anos 1960, a liberação dos costumes permitiu tal mudança”. A narração pode apresentar algumas pistas de compreensão histórica, apesar da fraca contextualização, mas esta aula superficial agrega pouco conteúdo ao filme, e não ajuda a esclarecer o panorama que segue.

A sequência é ainda pior. Se o início parecia veloz, os numerosos depoimentos adotam uma rapidez espantosa. Os atores e produtores do pornô gay falam, falam e falam, sobre os mais diversos tópicos, e a montagem corre para apagar qualquer respiração entre as frases, qualquer momento de hesitação. As palavras se atropelam, as ideias se sobrepõem, os depoimentos se sucedem sem que David conceda ao espectador tempo de respirar, refletir, absorver as imagens. Interessam apenas o discurso, as palavras, condensadas com uma pressa injustificável.

Assim, a discussão sobre sexo acaba se tornando hipertrofiada, e finalmente monótona. Ora Colby Jansen versa sobre seu casamento com uma transexual, segundos depois Johnny Rapid fala sobre o melhor ator com quem trabalhou, mais alguns segundos e Brent Everett lembra as passagens mais bonitas de seu namoro. Vinte minutos depois, Jansen fala mais uma vez sobre seu casamento com uma transexual. O único elo entre os depoimentos encontra-se na origem (são todos proferidos por atores pornôs), mas finalmente fala-se pouco sobre a indústria além do óbvio: os salários são maiores nos filmes adultos gays do que nos héteros, existe preconceito contra atores pornográficos etc.

I’m a Porn Star pretendia fazer um panorama sobre a indústria, mas acabou colando de maneira desordenada uma porção de frases soltas. Não ajuda o fato de existir uma música constante no filme, ao fundo de cada depoimento, tampouco agrada o conservadorismo de mostrar diversas cenas explícitas no início, mas poupar qualquer nudez dos entrevistados. O espectador sai da sessão sabendo pouquíssimo sobre esta forma de cinema e este segmento de mercado, mas conhecendo algumas fofocas irrelevantes de bastidores: você sabia, por exemplo, que Everett chora quando o marido fica ausente durante muito tempo?

Filme visto no Rio Festival Gay de Cinema 2014.