Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
Mundo Cão

Homem animal

por Lucas Salgado

Conhecido pelo trabalho no brilhante Estômago, mas também responsável por filmes esquecíveis como Corpos CelestesO DueloMarcos Jorge chega com seu mais novo projeto: Mundo Cão. O longa não é tão bom quanto Estômago, mas de certa forma recoloca a carreira dele nos trilhos ao oferecer uma narrativa bem desenvolvida e envolvente.

Santana (Babu Santana) é um cara comum que vive com a esposa (Adriana Esteves) e os dois filhos. Ele trabalha recolhendo cães abandonados na rua. Segundo determinação, ele deve manter os cães por três dias no Departamento de Combate as Zoonoses. Se o dono não aparecer, o animal é sacrificado. Determinado dia, Santana e um colega de trabalho levam um cachorro para o sacrifício. Pouco tempo depois, o dono aparece (Lázaro Ramos) e fica revoltado com a situação. 

É melhor não entrar muito em detalhes sobre o roteiro, que é um dos méritos da produção. O filme tem seus problemas, mas a previsibilidade não é um deles. O longa é repleto de reviravoltas, todas naturais e bem inseridas na trama. Há de se destacar o trabalho com os animais. Os cachorros estão presentes na trama não apenas como fonte/vítima de violência. Eles também são reflexo da natureza humana. É possível vislumbrar nas atitudes dos protagonistas, muitas atitudes de seriam consideradas irracionais ou selvagens.

O elenco principal é competente, com destaque para Babu e Lázaro. O ponto fraco é o ator mirim que interpreta o filho de Santana. Milhem Cortaz completa o elenco numa participação reduzida, mas boa como é de costume com relação ao ator.

A trama entra num jogo de vingança e violência crescente que é impactante e lembra um pouco o trabalho em Estômago. Mas um problema grave da produção é no desenvolvimento do núcleo familiar do protagonista, que oferece cenas mal conduzidas e artificiais, como as interações entre Santana e os filhos ou o momento em que o personagem de Babu toca bateria.

Em contraponto, os momentos de intimidade entre Santana e Esteves são bem executados, como na cena em que conversam sobre a filha que já cresceu e agora começa a se interessar em sair na noite.

A trilha sonora é um dos destaques da produção, que peca no trabalho de montagem, utilizando-se de transições pouco originais e nada pensadas.  

Filme visto no Festival do Rio, em outubro de 2015.