Na tentativa
por Lucas SalgadoCom apenas 29 anos, o canadense Xavier Dolan acumula prêmios em festivais importantes e obras cultuadas como Eu Matei Minha Mãe e Mommy. Com o passar do tempo, ele foi ganhando o estigma de "ame ou odeie". E o novo filme não deve escapar do paradigma.
The Death and Life of John F. Donovan marca a estreia do diretor no cinema de língua inglesa. E ele conseguiu um elenco de luxo para a empreitada: Kit Harington, Kathy Bates, Susan Sarandon, Natalie Portman, Jacob Tremblay, Michael Gambon e Thandie Newton. Isso sem falar em Jessica Chastain, que teve toda sua participação cortada na montagem.
Dolan é um escritor talentoso e, sem dúvida, um jovem que conhece a indústria e seus efeitos, mas ele também possui vícios de direção que cada vez mais interferem no resultado final da obra. Tinha sido assim em É Apenas o Fim do Mundo e está pior aqui.
John F. Donovan (Harington) é um ator consagrado de uma série de TV que está prestes a conseguir um papel em um filme de super-heróis. Sua vida começa a mudar de rumo quando são reveladas cartas que trocava com um garoto de 11 anos (Tremblay), um fã que sonha em seguir a carreira cinematográfica.
A trama tem momentos interessantes, quase todos presentes no núcleo de Tremblay, cuja mãe é vivida por Natalie Portman. Mesmo assim, o diretor se perde um pouco nos exagerados conflitos pessoais. Mas a coisa é ainda pior quando falamos do "segmento" de Harington. O ator entrega uma performance limitada e também não conta com a ajuda do roteiro, que prejudica até a talentosa Susan Sarandon, que vive sua mãe.
Entrando no restante do elenco, Kathy Bates é um dos destaques, brilhando nas poucas cenas em que aparece. Enquanto que Michael Gambon surge completamente desperdiçado no papel de Dumbledore. Ok, não é Dumbledore. Mas sua função é basicamente ser o sujeito velho que surge com sabedoria no momento em que o jovem necessita de ajuda.
Em todos os seus trabalhos, Dolan sempre valorizou muito o lado musical e a trilha sonora, não por acaso acabou dirigindo clipes musicais ("Hello", de Adele, é o exemplo mais famoso), mas aqui temos uma seleção musical bem simplória. Na verdade, dá pra dizer que é brega. Uma cena como duas pessoas correndo, uma na direção da outra, em câmera lenta, na chuva, ao som de "Stand by Me"? Os fãs do diretor que me desculpem, mas isso é muito brega sim. E o filme tem pelo menos outros três momentos em que a música entra forte em cena, sem necessariamente transmitir o sentimento desejado.
Sempre vago ao explorar a relação de um adulto e uma criança de 11 anos, o filme oferece personagens vazios como a jornalista vivida por Thandie Newton. E também não explora a vida pessoal e problemas de saúde de seu protagonista. Tudo é sugerido, muito pouco é aprofundado.
The Death and Life of John F. Donovan é a primeira tentativa de Dolan mostrar para Hollywood o que ele tem que encantou Cannes. E ele não consegue cumprir este objetivo. Nem de perto.
Filme visto durante o Festival de Toronto, em setembro de 2018