Humor contido
por Bruno CarmeloEsta comédia começa muito bem. Duas mulheres na faixa dos quarenta anos de idade, Violette (Julie Delpy) e Ariane (Karin Viard), falam sobre sexualidade sem complexos. Elas tecem comentários sobre as próprias vaginas, brincam com o potencial erótico dos homens burros. É um humor grosseiro, mas também realista pela construção dos diálogos e pela ausência de julgamento a respeito das aventuras femininas. Tudo indica que teremos uma comédia crua, mas ousada em seu retrato da vida adulta.
A sequência, entretanto, não segue por este caminho. Quando o roteiro se foca em apenas três personagens, percebemos a construção frágil de cada um deles: Violette apresenta-se como uma mãe extremamente protetora e uma artista ligada aos mais altos nomes da moda, mas não se percebe a ligação profunda nem com o filho, nem com a moda. O novo namorado, Jean-René (Dany Boon), é pouco verossímil como um brilhante engenheiro de informática. O filho Lolo (Vincent Lacoste) deveria ser um rapaz obsessivo, obstinado a destruir o namoro de sua mãe, mas durante dois terços da narrativa ele se assemelha a um garoto mimado.
Lolo: O Filho da Minha Namorada é marcado por um problema de tom. A diretora Julie Delpy se especializou nos retratos de grupos caóticos (vide o ótimo O Verão do Skylab), mas não demonstra a mesma habilidade ao desenvolver apenas uma trinca de personagens. A interação entre mãe, filho e namorado gera bons momentos isolados, mas a união entre as cenas revela-se pouco consistente. A comédia funciona, portanto, por algumas piadas memoráveis, especialmente aquelas envolvendo Karin Viard e alguns atores em participações especiais, mas ao final o espectador não terá conhecido a fundo nenhum dos protagonistas.
Isso é uma pena, porque o projeto traz um Dany Boon particularmente contido. O expressivo ator, uma espécie de Leandro Hassum francês, consegue compor um homem carinhoso, mas de gestos e expressões simples. Vincent Lacoste também faz uma composição minimalista, ao contrário do trabalho nas comédias Les Beaux Gosses e Camille Outra Vez. Não há dúvidas sobre a qualidade de Julie Delpy como diretora de atores, conseguindo trocar a caricatura da maioria das comédias populares pelos encontros patéticos entre pessoas comuns. Faltava somente conduzir o trio principal por um caminho interessante.
A conclusão, um dos elementos mais delicados das comédias românticas, não foge às convenções otimistas do gênero. Mesmo assim, último terço da história traz instantes preciosos de perversão afetiva, que lembram o bem-sucedido Bem Me Quer, Mal Me Quer. Percebe-se que Lolo e seus personagens funcionariam melhor numa comédia de humor negro, capaz de abraçar o sadismo subjacente aos conflitos. As escolhas da diretora tornam Lolo mais acessível ao público médio, mas também menos potente do que poderia ser.