Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
Operários da Bola

Copa alternativa

por Lucas Salgado

Vai ter Copa. E esta será realizada em estádios que ficaram prontos (ou quase prontos) graças aos esforços de milhares de trabalhadores pelo Brasil. O documentário Operários da Bola centra sua atenção nessas pessoas, tomando como foco aqueles que atuaram nas obras do Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Durante o andamento da construção, os trabalhadores organizaram uma competição amadora chamada Copa Solidária.

A premissa é interessante e a produção conseguiu um acesso muito grande à este campeonato, que foi o primeiro a ser disputado no novo estádio. São várias as tomadas da construção e a presença de um campo em meio a tanto entulho é quase poética. Infelizmente, apesar de contar com boas imagens, o longa se perde um pouco com a falta do que dizer.

O filme fez a opção de um discurso focado no sonho de ser um jogador de futebol, deixando de lado a oportunidade de destacar a precariedade e insegurança do trabalho na obra, que confronta diretamente com todo o glamour e toda imponência presente na Copa do Mundo. O mais perto que chega de uma crítica social é quando um operário fala: "poucos nascem para ser jogador de futebol, todo mundo nasce pra ser peão."

Operários da Bola conta com bons momentos e personagens, mas, para um filme de 74 minutos, é surpreendentemente enrolado. Após mostrar a competição, que conta com uma narração bem particular e divertida, o longa parte para destrinchar melhor a vida de três personagens. Dá a clara impressão de que a produção está tentando gastar tempo, uma vez que apenas um dos personagens parece ter uma história boa o bastante para ganhar espaço no cinema. É o caso de Bala, jogador do Maranhão com passagens breves pelo Atlético Mineiro e pelo futebol da Bélgica. Longe de ser habilidoso e claramente um clássico "zagueiro zagueiro", Bala vira o craque do torneio pelo simples fato de já ter jogado profissionalmente.

É interessante ainda a importância que os trabalhadores dão ao torneio, mostrando que em alguns casos operários de outras obras foram levados para Brasília para poderem disputar o campeonato. Neste sentido, seria mais interessante o filme focar na preparação do torneio do que perder tempo explorando o choro de um trabalhador que vive longe dos pais.