Críticas AdoroCinema
3,0
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Jurassic World: Reino Ameaçado

De volta à origem

por Francisco Russo

Já na primeira sequência deste novo Jurassic World, é possível notar o DNA do diretor Juan Antonio Bayoná: ao manipular com habilidade as sombras e luzes decorrentes de raios, acompanhamos a aproximação do temível T-Rex, cada vez mais perto de um humano incauto. Egresso do cinema de terror - é dele o tenso O Orfanato e a série Penny Dreadful -, Bayoná até imprime sua identidade em Reino Ameaçado, mas não consegue escapar dos arquétipos clássicos da franquia Jurassic Park. Este, no fim das contas, acaba sendo um dos maiores problemas do filme.

Após a nostalgia latente do primeiro Jurassic World, que investiu forte na saudade do público em (re)ver dinossauros desfilando na tela de cinema, esta continuação vai mais além ao replicar, também, personagens - ou ao menos o que significam na trama, como um todo. Senão, vejamos: o cientista idealista de Richard Attenborough agora cabe a um envelhecido James Cromwell, a criança da vez é interpretada pela novata Isabella Sermon, há um punhado de empresários interesseiros ao redor, cujos nomes não serão revelados para evitar spoilers. O fascínio diante dos dinossauros mais uma vez é explorado, associado a uma campanha para evitar sua nova extinção: um vulcão está prestes a eclodir na ilha Nublar e o mundo se pergunta se deve salvar os animais "desextintos" - termo do filme! - ou deixá-los seguir seu caminho natural.

Sem muito interesse em desenvolver o debate, Reino Ameaçado prefere rapidamente relembrar um ícone da franquia, Jeff Goldblum - mais nostalgia! -, e logo partir para a ação. Mais uma meia dúzia de minutos são gastos para reunir novamente Claire e Owen, até então separados e mais uma vez interpretados por Bryce Dallas Howard e Chris Pratt. Detalhe: a primeira aparição de Bryce é com um close em seu salto alto, ironia bem-humorada em relação a um dos ícones do longa anterior.

Apenas quando Claire, Owen & equipe retornam à ilha Nublar que o filme de fato tem início. Estamos de volta ao Jurassic Park, terra dos esplêndidos dinossauros em CGI que sempre nos impressionam pela grandiosidade e pelo detalhismo nos efeitos especiais. Uma batalha de monstros acontece ali, velhos conhecidos ressurgem, a ganância humana põe tudo a perder - ou seja, nada de novo! Entretanto, o posto de perigo maior não atende pela lava cada vez mais próxima, mas ao simplório roteiro escrito pela dupla Colin Trevorrow e Derek Connolly.

Repleto de facilitadores, o roteiro deste novo Jurassic World é um complicador constante. Não só pela mudança brusca de ritmo e interesse nas duas ambientações do longa-metragem, mas especialmente pelos vilões estereotipados e perigos mal construídos, que rapidamente se tornam uma piada involuntária. A insistência em repetir temas e ícones batidos também revelam uma preguiça imensa em trazer algo realmente novo - como houve em Jurassic World com o treinamento dos velociraptors, por exemplo. Tudo soa mais do mesmo, sem brilho.

Em meio a tamanho marasmo, quem brilha em algumas (poucas) cenas é Bayoná, quando o diretor tem liberdade para impôr sua grife particular. A sequência da garota na cama com o dinossauro entrando no quarto é um exemplo claríssimo, remetendo aos pesadelos infantis de que há um monstro lá fora. A própria manipulação de sombras aparece em outro momento, quando o vislumbre de um dinossauro surge em um túnel. A cortina de lava que separa humanos e dinossauros também funciona bem, especialmente em 3D. Soma-se também duas sequências do mais puro entretenimento, uma envolvendo um T-Rex dopado e outra o salvamento dos tripulantes de um dos veículos-bolha do parque - inverossímil, mas divertida! Pena que são ocasionais.

Com seus protagonistas burocráticos e uma história que evita a novidade, Jurassic World: Reino Ameaçado se arrasta durante boa parte de sua duração, especialmente na transição imposta nas duas realidades do filme. É quando personagens estereotipados entram em cena e supostas máscaras caem, para a surpresa de absolutamente ninguém. Sem contar que o filme apresenta uma situação bem estranha: quer dizer que dinossauros vivos valem apenas US$ 4 milhões em lances de um leilão? Isto no mundo atual, em que quadros de grandes pintores com frequência atingem cifras até 10 vezes maiores? Pode até ser que esta seja uma polêmica intencionalmente plantada, para causar tanto quanto o salto alto no primeiro Jurassic World, mas soa como desleixo de roteiro mesmo.

Repetitivo, Reino Ameaçado até avança na continuidade da franquia rumo à uma situação inédita que ainda irá ocorrer - no terceiro Jurassic World, não neste! Se não chega a ser um filme ruim, pela excelência dos efeitos especiais e as citadas boas cenas que divertem, deixa bastante a desejar em relação ao antecessor, especialmente nos quesitos roteiro e inovação.