Críticas AdoroCinema
2,5
Regular
War Machine

Humor sem direção

por Bruno Carmelo

À primeira vista, o general Glen McMahon parece ser um grande imbecil. Ele tem os olhos estranhamente arqueados, a boca repuxada, gesticula com as mãos em forma de gancho, corre todos os dias com as pernas bem abertas e os braços pendentes. Seus discursos adotam uma mistura de sinceridade extrema e ingenuidade infantil. No entanto, o narrador insiste que estamos diante de um homem respeitado, condecorado, um militar com histórico impecável em conflitos armados e grande estrategista da invasão americana no Afeganistão.

O sucesso de War Machine depende da capacidade do público em aceitar esta contradição. Brad Pitt já interpretou tipos igualmente excêntricos nas comédias de gênero Bastardos Inglórios e Queime Depois de Ler, mas nestes casos, os seus personagens eram tipos assumidamente limitados intelectualmente. Aqui, ele encarna a figura do “idiota genial”, um tipo profético cuja aparente incoerência serve para acobertar as ideias inovadoras. Se você não entendeu o brilhantismo do general, é porque ele está um passo à frente de você.

Na convergência entre inteligência e burrice encontra-se o protagonista de posições políticas ambivalentes: ele tece críticas à decisão de Barack Obama de retirar os Estados Unidos do Afeganistão, mas não demonstra interesse particular em prolongar a invasão. McMahon revela compaixão pelos cidadãos locais, mas participa de brincadeiras reafirmando a superioridade norte-americana. No que, afinal, acredita o protagonista? De que maneira ele pretendia vencer o confronto? Devemos acreditar na ingenuidade do general, na incredulidade de suas tropas ou na percepção de malícia do jornalista que o entrevista?

O resultado é prejudicado pela indefinição no ponto de vista. O diretor David Michôd critica diversos posicionamentos, países e pessoas, porém revela-se incapaz de propor uma reflexão sobre o tema. Mesmo o tom cômico se perde no conjunto: o tipo exagerado de Brad Pitt não condiz com o universo dos soldados. Quando o general se encontra com a esposa, interpretada com doçura e naturalidade por Meg Tilly, os dois não parecem sequer fazer parte do mesmo filme. Uma extensa galeria de coadjuvantes (Will Poulter, RJ Cyler, Aymen Hamdouchi) orbita em torno do protagonista sem que o roteiro saiba o que fazer com cada um deles.

War Machine tem os seus momentos fortes, é claro. Tilda Swinton e Ben Kingsley – os trunfos de Hollywood cada vez que se precisa representar alguma nacionalidade distante – se destacam em cenas pontuais de enfrentamento com McMahon, enquanto Lakeith Stanfield, um dos atores americanos mais interessantes dos últimos anos, rouba a cena quando aparece no papel de um soldado contestador. No momento em que o roteiro esquece McMahon para se focar na figura de Stanfield, a trama cresce em tensão e coerência. Além disso, a proposta de contestar a hipocrisia democrata merece espaço após tantas associações entre o belicismo e o partido republicano.

Por estas razões, é uma pena que o roteiro se perca em seus rumos e no tom do humor. Percebe-se, no meio do caos, traços de um discurso interessante sobre o sensacionalismo da imprensa, a contribuição da Europa na intervenção militar e a ignorância do exército em relação ao Oriente Médio. O jornalista interpretado por Scoot McNairy poderia trazer um olhar mais coeso caso Michôd percebesse que é ele, de fato, o protagonista do projeto. No entanto, terminamos com uma história de guerra sem guerra, um retrato do Afeganistão em que mal se vê o país, uma trama sobre estratégias incapaz de confrontar pontos de vista opostos, uma comédia que nunca sabe muito bem o que pretende satirizar.