Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Os Anarquistas

Os rebeldes também amam

por Bruno Carmelo

Em 2011, o jovem diretor Elie Wajeman surpreendeu com Aliyah, belo retrato de um encontro amoroso improvável devido ao contexto social opressor – no caso, a comunidade judaica tradicional. Essa estrutura se repete, de certo modo, em Os Anarquistas, que também aproxima um homem e uma mulher muito diferentes: ela é uma militante anarquista no fim do século XIX, ele é pago para se infiltrar no grupo e passar informações à polícia. Desta vez, o despojamento da câmera e a fluidez do ritmo de Aliyah cedem espaço a uma mecânica mais linear, típica dos dramas de época.

Chama a atenção no projeto o fato de não enveredar pelo romance padrão com cenas de amor tórridas, nem pelo suspense sombrio durante os planos dos ativistas - como fez o recente Uma História de Loucura, por exemplo. O cineasta descarta as regras do gênero para elaborar uma obra coesa, mas distanciada. Para um grupo de revoltados, a dinâmica é surpreendentemente blasé. Ao invés de mostrar o furor da juventude, a narrativa privilegia as discussões dos amigos dentro de um casarão, as refeições compartilhadas em silêncio, os cigarros acesos nos corredores. Os Anarquistas prefere discutir a luta de classes a representá-la em ações.

Neste sentido, ele parece frio, pouco empolgante. A impressão é reforçada pelas luzes azuladas, a direção em planos fixos, a montagem contemplativa. Este é um raro filme político que não se inflama, não toma partido, não adere à ideia de ninguém: ele se desenvolve como drama de personagens que se reúnem para discutir o anarquismo, mas poderiam se reunir para praticar um esporte, dançarem ou algo do tipo. O fato de serem politizados, ironicamente, fica em segundo plano.

O foco encontra-se no amor proibido entre Jean (Tahar Rahim, sempre muito intenso em olhares e gestos) e Judith (Adèle Exarchopoulos, menos interessante do que em Azul é a Cor Mais Quente), namorada de seu melhor amigo. O diretor filma cenas de sexo num cômodo vazio, beijos numa floresta paradisíaca, dedos que se encostam durante uma fotografia de grupo. Enquanto os personagens discutem meios de superar a opressão capitalista, Wajeman prefere fugir da realidade, recorrendo à paixão em segredo. Consequentemente, o melodrama atenua o potencial do discurso social.

Por fim, Os Anarquistas impressiona pela elegância da filmagem, pela pompa de figurinos e cenários – aspectos típicos da reconstrução de época -, mas deixa a desejar como projeto político, ou sobre política. Wajeman se sai bem ao brincar com as convenções, privilegiando os personagens à intriga, mas poderia se importar um pouco mais com o período histórico e com a dinâmica social. Ou seja, a obra seria mais intensa se o diretor demonstrasse pelos personagens a mesma compaixão que Judith e seus colegas demonstram em relação aos operários explorados pós-Revolução Industrial.