Críticas AdoroCinema
3,5
Bom
O Grande Ivan

Muita fama, pouca história

por Vitória Pratini

Filmes protagonizados por animais — sejam eles falantes ou não — tiveram um grande boom na década de 1990. Produções como Beethoven, o Magnífico; Dr. Dolittle; Lassie, e Baby, o Porquinho Atrapalhado eram figurinha repetida na Sessão da Tarde. O Grande Ivan, novo filme do Disney+, parece tentar trazer de volta esse sentimento de nostalgia. Com um elenco de dubladores de peso e efeitos visuais impressionantes, o longa-metragem para a família aposta em tantos elementos ao mesmo tempo que não consegue dar o espaço necessário que alguns enredos merecem.

A produção, originalmente destinada para os cinemas (antes da pandemia do coronavírus), é inspirada na emocionante história real do gorila Ivan, que foi adaptada para o premiado livro de Katherine Applegate, até ganhar sua versão televisiva. Atração principal do circo de um shopping no subúrbio norte-americano, o animal ganhou fama por aprender a pintar sobre seu desejo de liberdade. Tal elemento central da trama acaba sendo ofuscado em O Grande Ivan, em meio a fugas apressadas, personagens mal explorados, o desafio de manter um negócio aberto em uma economia volátil e, acredite, piadas de flatulências de cachorro.

Filme do Disney+ tem Helen Mirren e Angelina Jolie como dubladoras

O grande trunfo de The One and Only Ivan (no original) é um elenco de dubladores estelar, alguns pouco explorados em seus papéis, como Helen Mirren como um fofo poodle, a cantora Chaka Khan como uma galinha esperta e a estrela de Hamilton, Phillipa Soo, desperdiçada como um repetitivo papagaio (que nem tem chance de cantar). Por outro lado, Sam Rockwell entrega diferentes e importantes nuances ao interpretar a voz de Ivan; Angelina Jolie (que também produz o filme) passa serenidade e inteligência como a elefante Stella; e Danny DeVito diverte (e certamente se diverte) como o terrier Bob. Já a pequena Brooklynn Prince, que brilhou em Projeto Flórida, apresenta muito bem a curiosidade e ingenuidade da bebê elefante Ruby. Este aspecto, porém, se perde na nossa versão brasileira (deixando claro que assistimos à versão original e não temos dúvidas de que os dubladores nacionais são de qualidade).

Diante de tantos personagens de CGI, a malha que cria a conexão entre o público e o filme é Bryan Cranston no papel de Mac, o dono do circo que quer fazer de tudo para manter a empresa aberta. Assim como em Breaking Bad, Cranston traz em Mac não um vilão, mas a dualidade de ser um homem bom que faz coisas ruins. Ao mesmo tempo em que parece amar Ivan e os demais animais, ele também os mantêm em cativeiro.

Produção aposta em mensagem ambiental

O Grande Ivan é a cara do filme para a família. Inspira risos, choros e um quentinho no coração quando acaba. A diretora Thea Sharrock — especialista em fazer o público se debulhar em lágrimas em Como Eu Era Antes de Você — e o escritor veterano Mike White (Escola de Rock) equilibram todos esses elementos com alguns solavancos, porém entregam o esperado.

Mesmo que esteja aquém de sua história real, a produção diverte e aposta em uma mensagem ambiental: de que precisamos tirar os animais do cativeiro — e ainda faz um paralelo com a quarentena por causa do coronavírus, que nos deixou "presos em casa". Foi de forma muito menos severa do que A Máfia dos Tigres, é claro, mas o recado foi dado.