Críticas AdoroCinema
3,0
Legal
Aliados

Brad Pitt dorme com a inimiga? Eis a questão

por Renato Hermsdorff

Aliados é chique no último. Mesmo para quem não é ligado(a) em moda, as roupas de Brad Pitt e, principalmente, de Marion Cotillard saltam aos olhos nesse filme de época do cineasta Robert Zemeckis – não à toa, o trabalho da figurinista Joanna Johnston foi indicado ao Oscar na categoria. Allied (no original) é uma produção bem-feita, sem nenhum problema extremamente grave, mas também um filme do tipo “esquecível”. Não fosse o peso dos nomes que protagonizam o longa, o mesmo possivelmente passaria batido pelo grande público.

Zemeckis construiu uma carreira estranha. Dos clássicos pop dos anos 1980 (Tudo Por Uma Esmeralda, Uma Cilada para Roger Rabbit e, claro, a trilogia De Volta para o Futuro) a produções “oscarizáveis” (Forrest Gump - O Contador de Histórias, Náufrago, O Voo), ele investiu parte da carreira na animação com captura de movimento (O Expresso Polar, A Lenda de Beowulf, Os Fantasmas de Scrooge), depois de passar pela ficção científica (Contato) e até pelo suspense (Revelação). Aliados é, portanto, sua tentativa de emplacar um romance. De época. De guerra. Difícil encontrar uma unidade no trabalho do diretor.

Aliás – e antes de mais nada –, Allied está longe de ser um Sr. e Sra. Smith da Segunda Guerra Mundial, como seria de se supor a partir do material de divulgação do filme. Com bem menos ação (e sem humor) do que a produção de 2005, o longa conta a história do casal Max Vatan (Pitt) e Marianne Beausejour (Cotillard). Eles vivem dois espiões desconhecidos um ao outro que precisam forjar ser um casal na Casablanca de 1942 para executar uma missão: matar o embaixador nazista no Marrocos. Apesar dos

disfarces, na “vida real” (dentro do filme), eles acabam se apaixonando – e se casando. O grande conflito se dá quando os chefes dele suspeitam que ela é uma espiã alemã. E caberá ao herói executar sua amada caso a denúncia se confirme.

Max Vatan dorme com a inimiga em Aliados? (Claro que não vamos dar esse spoiler). A tentativa de responder a essa questão é o ponto central do filme. O roteiro de Steven Knight (Coisas Belas e Sujas) planta pistas inteligentes que ora fazem o espectador acreditar que sim, ora que não – embora os diálogos sejam didáticos demais. Não é fácil sustentar um suspense dessa natureza com competência – mesmo que, narrativamente, a opção adotada seja um tanto repetitiva (é uma dúvida que não justifica as duas horas de projeção).

Conta ainda contra a superprodução a brusca transição da personagem de Marion, de super-heroína empoderada ao papel da bela, recatada e do lar. Ainda assim, ela dá um banho de interpretação na comparação com Pitt, inexpressivo aqui.

Mas as irregularidades de Aliados são compensadas com um desfecho marcante, que não poupa o espectador. E talvez a cena final seja um motivo mais... nobre do que os vestidos usados Marion Cotillard na briga por um espacinho cativo na memória do espectador a respeito desse filme tão desnivelado quanto a carreira de seu realizador.